Safras recordes de soja (foto) e milho puxaram o crescimento do PIB no primeiro semestre. Foto / Wenderson Araujo / CNA/Divulgação

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Relatório atribuiu o forte crescimento no primeiro semestre do ano, em parte, a fatores transitórios; e previu um ritmo menor nos próximos trimestres deste ano

 

DA REDAÇÃO*

O Banco Central (BC) elevou a projeção de crescimento da economia este ano. A estimativa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) passou de 2% para 2,9% em razão, principalmente, da “surpresa com o crescimento no segundo trimestre”.

A projeção consta do Relatório de Inflação, publicação trimestral do BC, divulgado nesta quinta-feira (28). O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país.

Além disso, o BC faz previsões “ligeiramente mais favoráveis” para a evolução da indústria, dos serviços e do consumo das famílias no segundo semestre de 2023.

No segundo trimestre do ano a economia brasileira, superando as projeções, cresceu 0,9% na comparação com os primeiros três meses, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação ao segundo trimestre do ano passado, o avanço foi de 3,4%. O PIB acumula alta de 3,2% no período de 12 meses. No semestre, a alta acumulada é de 3,7%.

“A atividade econômica surpreendeu novamente no segundo trimestre”, destacou o BC no relatório, ponderando que o forte crescimento no primeiro semestre do ano se deve, em parte, a fatores transitórios. “Permanece a perspectiva de que a atividade cresça em ritmo menor nos próximos trimestres e ao longo de 2024”, avalia.

No primeiro trimestre deste ano, o setor agropecuário puxou o crescimento do PIB de 1,9% devido ao resultado das safras recordes de soja e milho. No segundo trimestre, os desempenhos da indústria e dos serviços explicaram a alta do crescimento da economia.

Futuro menos positivo

“Os impactos diretos e indiretos da forte alta da agropecuária no primeiro semestre de 2023 devem se dissipar no restante do ano e, para 2024, não se projeta alta tão expressiva do setor”, avaliou o BC.

Outro impulso transitório no primeiro semestre, e que não deve se repetir na mesma magnitude, segundo o relatório, foi a expansão dos benefícios previdenciários –influenciados por alta do salário mínimo e por mudanças de calendário que anteciparam pagamentos para o primeiro semestre– e de assistência social sobre a renda das famílias.

“Por fim, o cenário externo mostra-se mais incerto, com perspectiva de desaceleração da atividade econômica nos países avançados, em ambiente de pressões inflacionárias persistentes, e de menor crescimento para a economia chinesa”, explicou o BC.

Na política de juros, na semana passada o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu reduzir a taxa básica de juros, a Selic, de 13,25% ao ano para 12,75% ao ano. O comportamento dos preços fez o BC cortar os juros pela segunda vez no semestre, em um ciclo que deve seguir com cortes de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões.

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Copom contracionista

Ainda assim, em ata divulgada na terça-feira (26), o Copom reforçou a necessidade de se manter uma política monetária ainda contracionista, para que se consolide a convergência da inflação para a meta em 2024 e 2025 e a ancoragem das expectativas. As incertezas nos mercados e as expectativas de inflação acima da meta preocupam o BC e são fatores que impactam a decisão sobre a taxa básica de juros.

A Selic é o principal instrumento do BC para alcançar a meta de inflação, porque a taxa causa reflexos nos preços, já que juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança, evitando a demanda aquecida. Os efeitos do aperto monetário, entretanto, são sentidos no encarecimento do crédito e na desaceleração da economia. Já para incentivar a produção e o consumo, diante de preços controlados, o Copom diminui a Selic.

Setores da economia

Em 2022, a economia brasileira cresceu 2,9%, após alta de 5% em 2021 e recuo de 3,3% em 2020. O setor de serviços foi o que mais contribuiu para o crescimento do PIB no ano passado. Segundo o BC, os segmentos do setor foram severamente afetados pela pandemia da covid-19, inicialmente, mas desde então apresentam trajetórias de crescimento.

Para este ano, sob a ótica da oferta, a alta na projeção de crescimento do PIB reflete elevação nas projeções para os três setores: agropecuária, indústria e serviços.

– Agropecuária – A estimativa para o crescimento da agropecuária passou de 10% para 13%, refletindo melhora nos prognósticos do IBGE para a produção agrícola, principalmente de soja, milho e cana-de-açúcar, e crescimento do abate de animais no primeiro semestre maior do que o antecipado.

“Apesar da contribuição bastante positiva da agropecuária para o resultado do PIB no ano, o setor deve contribuir negativamente para as variações trimestrais do PIB ao longo do segundo semestre, sobretudo no terceiro trimestre, visto que a maior parte da colheita dos produtos com os maiores crescimentos anuais ocorreu na primeira metade do ano”, explicou o BC.

– Indústria – Para a indústria, a previsão foi alterada de 0,7% para 2%, com melhora nos prognósticos para a construção, para a “produção e distribuição de eletricidade, gás e água” e, especialmente, para a indústria extrativa. Nesse último componente, houve elevado crescimento da produção de minério de ferro e petróleo na primeira metade do ano.

– Serviços – Ainda sobre a oferta, para o setor de serviços a projeção foi revista de 1,6% para 2,1%, com melhora nas previsões para todas as atividades, com exceção do comércio, influenciado pelo desempenho da indústria de transformação, que segue com previsão de recuo em 2023.

– Consumo – Com relação aos componentes domésticos da demanda, houve alta nas projeções para o consumo das famílias, de 1,6% para 2,8%, e para o consumo do governo, de 1% para 1,8%. Para a formação bruta de capital fixo (investimentos) das empresas, o recuo previsto passou de 1,8% para 2,2%.

– Exportações – A projeção para a variação das exportações este ano foi revisada de 3,7% para 6,7%, repercutindo, principalmente, prognósticos mais favoráveis para os embarques de produtos agropecuários e da indústria extrativa. A previsão para as importações continuou sendo de estabilidade em relação ao ano anterior.

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Previsões para 2024

Pela primeira vez, o Banco Central apresentou a previsão de crescimento do PIB para 2024, de 1,8%, com variações nos componentes da oferta e da demanda mais homogêneas do que as previstas para este ano. Pelo lado da oferta, agropecuária, indústria e serviços devem crescer, respectivamente, 1,5%, 2% e 1,8%.

Na demanda doméstica, as taxas de variação esperadas para o consumo das famílias, consumo do governo e formação bruta de capital fixo são de 1,9%, 1,5% e 2,1%, respectivamente. Exportações e importações de bens e serviços devem crescer 1,5% e 1,6%, respectivamente.

Inflação

A previsão de inflação para este ano, calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), se manteve em 5%, a mesma do relatório de junho. Para isso, o BC projeta cenário com taxa básica de juros em 11,75% ao ano e câmbio em R$ 4,90.

As previsões do mercado estão mais otimistas que as oficiais. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o ano em 4,86%.

Para 2024 e 2025, a expectativa é que o IPCA fique em 3,5% e 3,1%, respectivamente. Nessa trajetória, a taxa Selic chega ao final de 2024 e 2025 em 9% e 8,5% ao ano, respectivamente.

A meta para este ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3,25% de inflação, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 1,75% e o superior 4,75%. Para 2024 e 2025, o CMN estabeleceu meta de 3% para o IPCA, nos 2 anos, com o mesmo percentual de tolerância.

 

*Com informações da Agência Brasil.

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