Foto / Márcia Regina de Paula

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

“Não aguento mais! Ano que vem vai ser diferente!”

Foi com essa determinação que, exausta, encerrei a temporada de verão 2019/2020, depois de receber uma centena de hóspedes entre os meses de novembro e fevereiro.

O meu desabafo se dava por conta do entra e sai de parentes, amigos, amigos de parentes e amigos de amigos aqui em casa.

Essa, para quem não sabe, é uma das alegrias de morar em Caraguatatuba. Amigos e parentes nunca se esquecem de você, principalmente no verão e sempre aparecem para um fim de semana ou um feriadinho.

E assim, a casa que construímos e onde hoje moramos, que mais parece uma pousadinha, pois os quartos têm portas que se abrem direto para o jardim, está sempre cheia nos meses mais quentes do ano.

Foi construída desse jeito porque já pensávamos em acomodar netos, filha e a tropa que aparecesse. Nem sempre é possível acomodar todo mundo pois a procura é grande e as “reservas” têm que ser feitas com antecedência. Juro! Não estou brincando.

A casa é simples e convidativa, com cara de cafofo de praia mesmo. Mas não é bem a casa que atrai as pessoas. Mesmo quando só tínhamos uma pequena edícula no fundo do terreno e um imenso gramado na frente, não era raro termos barracas armadas no jardim e os amigos espalhados na grama. A grande atração é o mar.

Recentemente, um antigo amigo, também jornalista e recém morador de São Sebastião, ligou para contar que no fim de semana estaria recebendo um irmão que há muito tempo não via. “Como assim? Até a pouco tempo você morava em São Paulo e seu irmão também!” “Sim. Mas nunca nos visitávamos”. Entendeu? Isso é a mágica de morar à beira-mar.

Hoje, sinto saudade do pessoal na varanda, preparando a mesa para o almoço. Sinto falta do entra e sai de gente indo e voltando da praia, tomando uma chuveirada ao ar livre. Sinto falta do som alto, do bate-papo nas redes, das cadeiras na grama com os sobrinhos tomando sol.

Não sei quais entidades espirituais levaram tão a sério o meu lamento no verão retrasado. O que eu sei é que minha casa passou por este verão inteiro completamente vazia. Quanta tristeza! O que eu faço agora pra convencer essas entidades que eu não falei aquilo a sério, que estava de brincadeira?

 

> Márcia Regina de Paula é jornalista (MTb nº 20.450/SP) há 37 anos. Mora em Caraguatatuba há quatro anos, depois de ter vivido por 28 anos em São José dos Campos.