Anderson usa como método gritar para pedir a moradores de prédios residenciais. Foto / SuperBairro

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.


WAGNER MATHEUS

Os moradores do entorno da praça Bom Jesus do Serimbura, na Vila Guaianazes, região da Vila Ema, foram surpreendidos no final da tarde desta quinta-feira (22) com a manifestação de um homem que, aos gritos, pedia a doação de alimentos para a família.

Durante cerca de uma hora, entre 16h30 e 17h30, o pedinte repetiu o mesmo apelo, dirigindo-se especificamente aos moradores do condomínio Villa Romana, formado por cinco torres de apartamentos. Ele pedia aos moradores a doação de um quilo de alimentos, alegando que sua família está passando fome. [Assista ao vídeo acima.]

Contatado pelo SuperBairro, o homem se identificou como Anderson Gomes da Silva, 41 anos, morador na comunidade do Jardim Nova Esperança, como é conhecida a favela do Banhado, na região central. Ele trazia duas ou três sacolas de supermercado contendo alguns gêneros alimentícios. Estava comendo milho verde de uma lata que recebeu como doação.

“Eu grito para chamar a atenção, tenho que fazer isso porque a minha família está passando fome”, justificou, dando a entender que procura criar uma situação de constrangimento para conseguir doações. “Mas tenho que mudar sempre de lugar, senão não funciona. O pior é que os lugares estão acabando”, completou, dizendo que a sua “estratégia” visa locais com alta concentração de edifícios. Já fez o mesmo em áreas do Jardim Aquarius, na região oeste, e outros bairros da região central, como a Vila Adyana.

Anderson diz ter mulher e três filhos, de 12, 8 e 5 anos. Está vivendo há cerca de sete meses no Banhado, na casa do sogro. “Ele é igual eu sou, não teve estudo, não tem condição nenhuma, às vezes eu ainda dou uma ajuda para eles”, contou.

A trajetória que o levou a se tornar um pedinte, segundo Anderson, vem de longe. Ele relatou ter nascido na antiga favela da Kodak, no bairro Chácaras Reunidas. Diz que chegou a trabalhar em cozinha até por volta dos 30 anos, mas que, a partir daí, foi atacado por uma espécie de “alergia” que o deixou com o corpo coberto de feridas, que ainda hoje podem ser verificadas na região de suas pernas.

Desassistido

Anderson garantiu já ter procurado “quatro igrejas católicas e três protestantes” para buscar ajuda de cesta básica, mas não foi atendido em nenhuma delas. “Na paróquia do Espírito Santo, lá no Jardim Satélite, um segurança ainda me expulsou da igreja”, acrescentou.

Perguntado se já havia procurado a área social da Prefeitura, o pedinte disse que não. “Não tenho fé no serviço social”, alegou. E disse que procura fazer bicos. “Hoje, fiz um bico de borracheiro e, ontem, de ajudante de pedreiro, mas não dá para ganhar quase nada, então tenho que pedir”, justificou.

Contatada pelo SuperBairro na semana passada para a produção de uma reportagem que ainda está em fase de apuração, a Secretaria de Apoio Social ao Cidadão (Sasc), da Prefeitura de São José dos Campos, respondeu sobre o trabalho que está sendo feito junto à população mais vulnerável nesse período de pandemia.

Segundo informou a Sasc, na semana passada, atuam nesse trabalho oito equipes específicas e mais quatro rondas de apoio para intervir inclusive junto aos pedintes que se postam em semáforos e cruzamentos movimentados da cidade.

Prefeitura responde

Sobre a ocorrência deste final de tarde na Vila Guaianazes, foi feito contato com a Sasc. Seguem as respostas:

“O indivíduo abordado já é conhecido das equipes da Abordagem Social e costuma agir da mesma maneira em outros locais. A Secretaria de Apoio Social orienta a população a evitar fazer doações, pois muitas vezes o que é doado é trocado por drogas e bebidas.

O município possui 11 CRAS [Centro de Referência de Assistência Social] e 3 CREAS [Centro de Referência Especializado de Assistência Social], que são equipamentos públicos responsáveis pela inscrição do cidadão em vulnerabilidade no CadUnico, forma de acesso da população aos benefícios governamentais. O município possui também um Centro de Referência para População de Rua e abrigos, todos destinados ao acolhimento e encaminhamento de ocorrências dessa natureza. Esse sistema atende as ocorrências de todas as regiões da cidade.

A Secretaria orienta ainda para que em ocorrências dessa natureza acione a Abordagem Social pelo fone 153.”