Ex-prefeito Sérgio Sobral (à dir.). com o arquiteto e urbanista Lúcio Costa, criador do plano piloto de Brasília. Foto / Amado Netto/PMSJC

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Eu nem pensava que um dia iria viver no Vale do Paraíba. Aliás, nem sabia o que era esse vale. Até aquele meado de 1975, só tinha vindo à região para uma partida de voleibol em Pindamonhangaba –terra, então, do veterano atleta Una e da “promessa” Amorim–, mas não vi nada, a não ser os grandes descampados e arvoredos que já não existiam na minha querida cidade de São Bernardo do Campo, no chamado “ABC paulista”.

Desde que meus pais e irmãos –Ricardo e a inesquecível Roseli, a Rose, que nos deixou há alguns anos– vieram morar no Vale, em Caçapava, optei por ficar com a vovó Maria e o vovô Antenor em São Bernardo, onde trabalhava com publicidade e dava os primeiros passos no jornalismo.

Mas isso não interessa. Vamos voltar ao Pássaro Marrom, ônibus que os malucos da empresa sempre escreveram com “n”, mas o correto é com “m”. Embarquei lá na antiga rodoviária de São Paulo com destino a Caçapava. Não me lembro se houve baldeação de São José para Caçapava, juro.

O que me recordo é de ter comprado, não me lembro se em São José ou em Caçapava, um exemplar do jornal “Agora”, que era o maior e melhor da região. Queria compará-lo com o jornal em que eu trabalhava, ainda na área de publicidade, na cidade de Santo André, coladinha em São Bernardo. Até que, uns dois meses depois, iria aderir ao projeto de um “jornalzinho” em Caçapava, que me levou a mudar para a chamada “Cidade Simpatia” do Vale.

Comprei o exemplar do “Agora” e me assustei. Tinha umas 48 páginas ou mais, em quatro ou cinco cadernos. Quando comecei a folhear o jornal, percebi que, além da edição normal, aquela era uma edição especial. O jornal trazia textos jornalísticos e anúncios publicitários homenageando o então prefeito Sobral, um militar da Aeronáutica nomeado pelo “governo revolucionário” para administrar São José dos Campos, que eles resolveram considerar como cidade de interesse para a segurança nacional. Sobral estava deixando a Prefeitura.

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Nunca mais vi uma manifestação tão forte de apoio a um prefeito de São José como aquela homenagem do “Agora” e das mais variadas empresas ao Sobral.

O destino quis que, a partir do dia 8 de dezembro de 1977, eu começasse a trabalhar no jornal “ValeParaibano”, que acabou assumindo a hegemonia do jornalismo na cidade e região. Mas nunca esqueci a homenagem do “Agora” ao Sobral.

Esta longuíssima introdução está sendo feita para dizer que o prefeito é um síndico que nós escolhemos pelo voto para cuidar da nossa cidade. Exatamente como os síndicos cuidam dos condomínios verticais ou horizontais dentro de uma cidade.

Recentemente, foi a vez do prefeito Felicio Ramuth se despedir. Vai disputar o governo do estado de São Paulo. No seu lugar, ficou o vice Anderson Farias Ferreira.

Mas você vai perguntar onde eu quero chegar, né?

Os síndicos

Quero chegar ao ponto de dizer que todos os prefeitos de todas as cidades do mundo sofrem uma pressão gigantesca todos os dias. É como se eles fossem os únicos responsáveis pela rua que não foi varrida, pela consulta no SUS que não foi legal, pela isenção no IPTU que não foi aprovada etc. etc.

Voltando ao Sobral. Administrou entre 1970 e 1975, desfrutando do poder absoluto de prefeito nomeado pela chamada “revolução” de 1964, que a maioria chama de “ditadura militar”. Imagino que Sobral –o brigadeiro Sobral– tenha sido, como comprovou aquela edição do “Agora”, o prefeito mais admirado da história recente da cidade. Mas depois vim a descobrir que não foi só ele a merecer os aplausos da população.

Fiz uma breve pesquisa e descobri que o município de São José dos Campos teve, desde 1798, quando ganhou o status de cidade, 63 prefeitos. Foram 63 mandatos, mas alguns foram reeleitos ou ganharam uma eleição e voltaram a ganhar outra alguns anos depois, então eles se resumem a 57 nomes. Destes 57, convivi com 13 durante o exercício do cargo, mas conheci outros três que já tinham sido prefeitos –José Marcondes Pereira, José Ferze Tau e Tertuliano Delfim Júnior.

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Sai Felicio

Agora, sai Felicio Ramuth para disputar o governo de São Paulo. Felicio é herdeiro de dois grandes prefeitos que a cidade teve, eleitos pelo PSDB e, por isso, chamados de “tucanos“. Foi uma excelente safra desses pássaros bicudos para a nossa cidade.

Emanuel Fernandes estabeleceu, em dois mandatos, um novo paradigma de como se deve governar uma cidade. Simplificou o diálogo, abriu novas possibilidades, criou um padrão de qualidade para o serviço público que nunca antes havia sido atingido.

No lugar dele, veio Eduardo Cury, que estava desde o primeiro dia no grupo de Emanuel e deu conta do recado. Em dois governos, mostrou que, se não tinha o mesmo carisma do discurso e dos “sonhos” vendidos por Emanuel, era um governante sério e focado na consolidação do “modo tucano de governar”.

Veio Felicio Ramuth, uma espécie de “outsider” da política nascido da cabeça de Cury. E o que Ramuth mostrou? Mostrou uma capacidade de gestão da máquina pública como nunca se viu. E mostrou também que, além do “tecnocrata” que todos imaginavam que fosse, somou-se a esse lado racional uma habilidade política que ninguém esperava.

Agora, Felicio vai disputar o governo de São Paulo. Se vai ser eleito ou não, isso não importa tanto. O que mais interessa, no meu modo de ver, é que Felicio é o segundo prefeito da história da cidade a ter um projeto político mais ambicioso. O primeiro foi Joaquim Bevilacqua, que tentou algo mais por duas vezes, mas não chegou lá.

Felicio quer, simplesmente, ser o novo governador do mais rico e importante estado do Brasil. Se vai conseguir agora, no futuro, ou nunca, repito, não importa. O que interessa é que Felicio é um legítimo representante de tudo o que São José dos Campos representa: modernidade, tecnologia, competência.

Um novo síndico

Agora a cidade ganha um novo síndico. Neste condomínio de mais de 730 mil pessoas, o que se espera é que Anderson Farias Ferreira avance ainda mais em relação a tantos que suaram a camisa para fazer de São José dos Campos a cidade que é hoje.

Gostaria de homenagear aqui, todos os 57 cidadãos que assumiram o mandato de prefeito de São José dos Campos. Como são muitos, vou citar apenas os treze que conheci como jornalista no exercício de seus mandatos: Ednardo José de Paula Santos, Joaquim Bevilacqua, José Luiz Carvalho de Almeida, Robson Marinho, Hélio Augusto de Souza, Antonio José Mendes Faria, Pedro Yves Simão, Angela Guadagnin, Emanuel Fernandes, Eduardo Cury, Carlinhos Almeida, Felicio Ramuth e Anderson Farias.

Para encerrar esta crônica, não podia deixar de cutucar quem gosta de homenagear os que não têm nada a ver com a cidade. Vocês sabiam que o primeiro prefeito de São José dos Campos foi o senhor Tomé Alves Alvarenga, que governou São José entre 1798 e 1805?

Pois é. O Tomé não tem sequer uma calçada com o nome dele. Mas, em compensação, o nosso ex-ministro Tarcísio Gomes de Freitas, que não sabe nem chegar no Parque da Cidade, é Cidadão Joseense.

Parabéns a todos os “síndicos” que cuidaram desse maravilhoso condomínio chamado São José dos Campos.

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 46 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

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> Texto atualizado às 14h59 do dia 5/4/22 para revisão ortográfica e de estilo.