Foto / SuperBairro

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Que me desculpem os mais exigentes, mas não consegui resistir ao título meio brega desta crônica. Explico: sou meio brega mesmo. E explico mais: a crônica tem a ver com saudosismo, que é outra coisa considerada breguíssima.

Feita esta introdução obrigatória, vamos adiante. Apesar de ter projetado este nosso site de notícias, o SuperBairro, com um alcance primordial para toda a região do Centro expandido da cidade, assim como alguns bairros da região oeste, o fato é que ele tem como epicentro a Vila Ema e o Jardim Maringá. Será por que eu moro na Vila Ema? Com certeza.

Moro na Vila Ema, mais especificamente na Vila Guaianazes –que como nas nossas primeiras lições de matemática é um subconjunto contido na Vila Ema–, vai fazer no mínimo 22 anos. Sou um modesto jornalista, casado com uma modesta jornalista. Trabalhávamos muito, sempre em dupla, morávamos de aluguel desde por volta de 1984, entre o Jardim Satélite e o Bosque dos Eucaliptos, até que, parafraseando o discurso célebre de Martin Luther King, nós tivemos um sonho.

O sonho resultou na compra de um apartamento, em 1994, na planta, que deveria ser entregue em 1997, em um negócio de cerca de 100 parcelas, com duas intermediárias bem pesadas por ano. Não preciso dizer que nos arrebentamos de trabalhar para enfrentar o desafio.

O edifício só foi entregue em 2000, depois de algumas dificuldades da construtora em relação ao financiamento bancário. Mas no final deu tudo certo e conseguimos ocupar um dos históricos terrenos em que foi dividida a área da usina de leite da Vigor. O nosso prédio foi o primeiro naquele lado da avenida Heitor Villa-Lobos, que era desertíssima e generosamente sombreada por grandes árvores. Hoje, se uma mudinha crescer na avenida vai virar notícia de jornal, tão improvável será o fato.

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Amigos leitores, esta longa e nova introdução é só uma maneira de dizer que eu e minha companheira de 40 anos de casamento adotamos a Vila Ema e o Jardim Maringá como o nosso berço. Claro que não podemos esquecer de gente que chegou muito antes. Aqui vai um abraço especial à querida Francisca Ribeiro de Vasconcelos –a Xyka–, que mantém um projeto no Facebook mostrando o passado fantástico de tantas famílias que tornaram realidade esta região na qual nós chegamos depois.

A ideia desta crônica surgiu neste primeiro dia útil do ano de 2024. Senti a necessidade de reconhecer o quanto a região da Vila Ema cresce a cada dia –assim como, é claro, todo o Centro expandido, como é definido o Centro novo de São José.

E eu, morando no bairro há tanto tempo, me senti à vontade para descrever a minha rotina logo ao sair de casa, bem no início da Heitor Villa-Lobos. Topa uma viagem rapidinha?

Saio do meu condomínio e vou em direção ao “centro” da Vila Ema. Passo pela Gelato Bocca Fredda, loja recente onde dizem estar os melhores sabores de sorvetes do bairro. Colado nela, está o polêmico bar B&B Drinks, muito criticado pela população em razão da perturbação do sossego e “otras cositas”, mas que tem se esforçado para se enquadrar na legislação. Logo em seguida, vem o tradicional Espetinho da Ema, dos sempre amigos gaúchos que, pela competência, há muitos anos reúnem grandes públicos, nem sempre obedientes.

Como o roteiro é meu, vou me permitir pular alguns pontos que não me chamam tanto a atenção, principalmente a sede do Tribunal de Contas do Estado, onde gente ligada a prefeituras e câmaras municipais vai pagar os seus pecados –ou não.

Nesse ponto, já passei pela Drogaria São Paulo, que foi bem-vinda no bairro, mas chegou derrubando árvores em sua calçada para exibir o seu totem majestoso. Passo também por um dos empresários pioneiros do bairro, o meu amigo Jaime Alves, cabeleireiro top que corta meus cabelos uma vez ao mês, mas a quem eu eximo de toda a culpa porque eles estão quase totalmente brancos e a cada dia mais indisciplinados. A idade chegou…

Meu próximo endereço afetivo é a Casa de Massas Vila Ema –um símbolo quase equivalente ao Museu de Arte Moderna na avenida Paulista, obra coletiva da família Rovella. Logo ao lado dela, está a Casa de Carnes Estrela do Sul, não tanto pelas boas carnes que entrega, mas pela família maravilhosa comandada há 43 anos pelo pioneiríssimo José Monteiro do Amaral e hoje tocada também pelos seus filhos. É um ícone da região da Vila Ema.

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Chego, do outro lado da Heitor –diminutivo carinhoso adotado pelos moradores modernos–, ao supermercado Villarreal. Nasceu com outro nome, A Menina, depois se chamou Ema Serv e, hoje, Villarreal. Tudo muito bom, tudo muito bem, mas seus donos atuais não cumpriram ainda o compromisso de manter uma unidade “premium” no bairro, assim como mantêm no Urbanova. Por que será?

Estou quase chegando no final do que seria o nosso “calçadão da rua Sete” aqui na região da Vila Ema. Lá, dou de cara com a tradicional Padaria Dona Rosa, sucessora da A Boneca, ponto de encontro dos moradores tradicionais. Pela sua importância, deveria ser tombada como patrimônio imaterial do bairro.

Finalmente, depois de uns dez a quinze minutos de lenta caminhada, chego à “Praça da Apoteose” do meu desfile. E tenho duas opções antes de chegar à Savema, a Associação dos Amigos da Vila Ema, Jardim Maringá e Adjacências, que tenta se manter em pé depois de ter esquecido a sua importância histórica para a região. Conto, para esse reerguimento, com o sentido de missão do atual presidente, Celso de Almeida.

Vou encerrar esta crônica um pouco pretensiosa com uma tirada ao estilo “quinta série”. Explico. Logo após a padaria, vejo-me com duas alternativas. À direita da avenida, o pessoal supercompetente da Farma Conde, nos quais confio quase tanto quanto nos meus médicos. Mas, se optar pela esquerda, vou desembocar no Chaparral da Villa, uma “disneylândia” dos apreciadores da arte de comer e beber bem, com música ao vivo de sobremesa.

Concluo, como disse, com o meu lado quinta série:

Se eu preferir, nesta reta final, a direita, a Farma Conde, vou ficar muito irado se sair de lá pior do que entrei. Mas se eu optar pelo lado esquerdo da Heitor, o Chaparral, se sair de lá melhor do que entrei, vou pedir meu dinheiro de volta. Afinal, como diz o ditado popular, eu bebo para ficar “bêbado”, se fosse para ficar bom, iria procurar uma farmácia. (kkkk)

Espero que você tenha tido a sensação de uma breve excursão pela principal avenida da nossa Vila Ema. Quero deixar claro que foi uma pequena viagem afetiva pelo lugar onde moro há tanto tempo. E penso que este texto é necessário porque estamos vivendo novos tempos. Novos empresários estão chegando, com novos empreendimentos, e eu tenho certeza de que a cada mês, a cada semestre, a cada ano, a Vila Ema, o Jardim Maringá e as tais “adjacências” irão se consolidar em um grande polo de comércio, serviços e entretenimento, muito maior do que é hoje.

Sou feliz por conhecer muitos dos que vieram antes para iniciar essa “revolução”, e muitos outros que estão ampliando esta obra atualmente. Que os empreendedores do futuro não se esqueçam de quem construiu o nosso bairro, que é a nossa vida.

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 48 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 22 anos.

 

*Texto atualizado às 14h33 do dia 4/1/2024 para inclusão do primeiro nome do atual Supermercado Villarreal.

**Texto atualizado às 23h52 do dia 4/1/2024 para revisão ortográfica e de estilo.

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