Foto / Edna Petri

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Há um tempo arrumei um cantinho na sala de TV onde eu pudesse ficar quietinha escrevendo meus textos no notebook ou lendo meus livros.

Não demorou muito para que o meu cachorro também arrumasse um canto para ficar mais próximo de mim. Próximo é pouco, praticamente encostado, em cima do notebook. O lugar escolhido por ele foi o encosto do sofá, junto à janela e à minha mesa, quase na altura dos meus olhos, até porque eles odeiam nos perder de vista.

Só quem tem um pet de estimação sabe que eles são assim mesmo, chicletinhos, grudentos e muito apegados.  Há que se preparar quem pretende ter um, porque eles “garram” mesmo na gente, e nos dão tanto amor que a gente vive se perguntando se merecemos tudo aquilo. E esse é o tipo de grude nada tóxico que vem com garantias de fazer sua vida melhor.

E pode acreditar que não há limites para a intromissão desses seres em nossas vidas. Até quando estamos no banheiro, compenetrados, eles fazem questão de estarem lá. E ali ficam encarando, como se estivessem perguntando:  “e aí, vai demorar, véi”? Ou se acomodam no chão, próximo aos nossos pés, ou, o que é pior –e esse é o meu caso– pedem colo, afinal “tá sentada ai sem fazer nada, aproveita e me dá um colo, ué!”

Tomar banho sozinho então, esquece, nunca mais. É só você procurar que vai encontrar dois olhinhos te observando. O meu ainda por cima fica preocupado durante todo o banho e de vez em quando chega mais perto. Vai que tem uma porta secreta dentro do box e eu sumo, vou para Nárnia? Tudo bem ir para Nárnia, mas sem ele, aí não né?

Gente que não curte bicho acha um absurdo tudo isso. Imagina entrar no banheiro? Imagina dividir espaço? Imagina dormir na minha cama? Creio em deus pai, jamais! Pois essa pessoa não sabe o que está perdendo. É um aconchego tão gostoso, um dengo, um carinho, que só sabe quem realmente se permite doar e receber.

E pode até parecer coisa simples esse negócio de doar e receber, mas é um exercício e tanto. Porque doar é um ato que envolve caridade, humildade e nem todos estão preparados para isso, ainda mais se tratando de um animal.

E sempre, invariavelmente, depois desse doar vem o receber. É tanta alegria naqueles olhos, nos miados, nos latidos, nos rabos balançantes, tanta admiração, tanto amor transbordando que você realmente se sente um ser privilegiado. E sabe como é, privilégio é realmente para poucos.

Nada contra quem acha que lugar de cachorro é do lado de fora da casa, comendo ração, bebendo água parada há dias no pote e sem qualquer contato com os humanos da residência. Até porque é só cachorro, ora bolas! Mas nada a favor. Nada a favor para a vida dessa pessoa, nada que acrescente algo para melhor. Nada.

Tem quem realmente não goste e pronto, ponto final. Não curte. Não acha a menor graça. Não teria um animal de estimação nem que pagasse. E tá tudo bem, cada um, cada um.

Mas os melhores são os que gritam isso quase que uma vida toda, para depois –assim do nada– se renderem aos encantos e caprichos de um animalzinho. E essas pessoas sequer percebem o quanto se transformam em seres humanos melhores, visto que esses animais têm esse poder sobre nós: nos tornar seres mais evoluídos.

Não que quem não tenha um pet de estimação não vai evoluir ou se tornar um ser humano melhor. Nada disso. A diferença é que eles nos ajudam nessa travessia, porque exigem que tenhamos um outro olhar e esse olhar acaba se estendendo para situações da nossa vida que antes pareciam adormecidas.

Pode até parecer conversa fiada de quem é só apaixonada por bichos, como eu sou, mas já cansei de ver pessoas se transformando, praticamente renascendo, depois de ter um bicho de estimação.

Olhares sisudos e caras carrancudas dando lugar a olhares ternos e palavras de carinho que nunca se imaginou saindo daquele ser.

Mau humor e premonição de desgraças também são outros males que acabam sendo extintos depois do contato com esses seres de pouco ou muito pelo, ou penas, ou barbatanas.

Além de serem considerados um santo remédio para quem tem transtornos psíquicos, como ansiedade, síndrome do pânico, depressão, entre outras doenças. As crianças e os idosos que o digam…

Enfim, eu ficaria aqui um bom tempo falando das maravilhas em se ter um bicho de estimação, mas para encerrar eu digo apenas que se você quer estender a sua capacidade de amar; se quer olhar para o lado e saber que não está sozinho; se quer fazer uma refeição sempre acompanhado; se quer ser seguido até mesmo quando vai ao banheiro e quer ter um cobertor de orelhas, é hora de dizer sim para aquele bicho de estimação que você viu e que está para doação.

As probabilidades de que você possa se arrepender são mínimas, mas garanto que as de você sorrir todos os dias são altas, muito altas. Acredite.

 

> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.