Foto / Facebook/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Foi o historiador Sérgio Buarque de Holanda –sim, o papai do Chico Buarque–, quem lançou a tese do brasileiro como “homem cordial”. Segundo sua definição publicada no Google, este homem “seria a contribuição brasileira para a humanidade”. E mais: “Tinha como virtudes a hospitalidade, a generosidade e a expansividade emocional, características e legado da vida rural e colonial brasileira”.

Este lado bom e simpático do povo brasileiro povoou a nossa imaginação durante décadas. Nos achávamos uma espécie de campeões mundiais da cordialidade. Mas entramos no século 21 com a sensação de que o tal homem cordial foi para as cucuias.

Nada mais emblemático sobre esse brasileiro das cavernas, que tem substituído o cordial, que um passeio pela Internet, mais especificamente pelas redes sociais. Ali você vai encontrar uma terra de ninguém, um “pega pra capar”, perseguidores ferozes, mal-educados contumazes. Difícil sair ileso dos xingamentos, ofensas, convites para briga e, ainda mais graves, os tais cancelamentos.

Esta visão de decadência da civilização brazuca me veio à mente acompanhando a trajetória do campeão do BBB 24, o brilhante estrategista Davi. Porém, se ele achava que seus maiores adversários estavam na tal “casa mais vigiada do Brasil”, mal sabia o que o esperava quando saísse dela. Davi encontrou um verdadeiro pelotão de fuzilamento.

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De início, o turbilhão de declarações, provocações, fake news, assédios dos “fãs”, perseguição de paparazzi e absurdos praticados pela chamada “imprensa popular”, simplesmente detonou o relacionamento amoroso do rapaz lá em Salvador. E a esposa ou namorada virou ex da noite para o dia.

Não contente, o pelotão de fuzilamento do baiano despejou todo o estoque de fatos –ou fakes?– que transformaram o simpático motorista de aplicativo em um ser abjeto. Alguns tiros disparados: saiu do BBB e se transferiu para uma mansão no Rio; tramou com a família um pé na bunda da companheira para não ter que dividir o dinheiro dos prêmios com ela; mostrou a sua “verdadeira cara”; e por aí vai…

Nesse ritmo, o brasileiro tão cordial, que torceu pela vitória do Davi e lhe deu 10 milhões de seguidores, não irá descansar enquanto não deixar o rapaz ainda mais pobre do que era antes de entrar no BBB. E pior: com a fama de bandido e mau-caráter.

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Essa máquina de moer reputações tem funcionado cada vez mais no país, não importa quais sejam os personagens ou suas áreas de atuação: Neymar no futebol, Lula e Bolsonaro na política, a viúva de Gal Costa na música…

Outro massacre que tem chamado atenção é o dedicado ao ex-casal formado pela apresentadora de TV Ana Hickmann e seu então marido/empresário Alexandre Correa. O pior é que, nesse caso, os ataques são disparados dos dois lados.

Primeiro, ficou decidido que a Ana foi vítima de um marido pilantra, que desviava a fortuna do casal, além de maltratar a esposa de todas as formas possíveis. Em seguida, um jornalista resolveu dar espaço para o vilão e os dois começaram a bombardear a antes santinha, com direito a denúncia de infidelidade conjugal, desvio de dinheiro e outras barbaridades.

No momento, existem dois “exércitos” trabalhando incansavelmente. Um, atacando o ex-marido e o outro, atacando a ex-esposa. Com direito a supercobertura do novo casal formado por Ana Hickmann e o cozinheiro Edu Guedes. Do outro lado, Alexandre usa uma estratégia para se tornar vítima dizendo que nunca esperava ter sido feito de corno.

E assim caminha este país. Parece que o antes brasileiro cordial se transformou em uma máquina de destruição de carreiras, reputações, relacionamentos e sonhos.

Te cuida, Davi!

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 48 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 23 anos.