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Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Modorra, palavra esquecida, a significar sonolência, no sentido vulgar a gostosa sensação de cochilar, cair no sono, em meio a uma tarde morna, sem estresse, em paz com o mundo.

Monteiro Lobato, o gênio da literatura infantil, ainda não superado, foi quem nos deu de presente, pelo Sítio do Picapau Amarelo, esta espécie de felicidade no mês de abril: a modorra. Um tanto com jeito do Jeca Tatu, porém, neste, a preguiça era crônica e involuntária.

Modorrar, no entanto, é um relaxar intenso, abandono das tensões, espreguiçar-se gostosamente num ambiente bonito. À sombra de uma árvore, de preferência, ou deitado na grama, mesmo na cadeira de uma cozinha, a descascar caprichosamente uma laranja –prefiro uma mexerica, tangerina ou bergamota. Saborear devagar o fruto, ali numa malemolência algo baiana, sem culpa, nem pressão. Valia ontem, vale hoje.

Acrescento, depois da soneca, desse desfrute corporal, a leitura de um bom livro. Ou de qualquer escrito de seu interesse. Tudo bem, importa sempre. Acreditem, aqueles que não descobriram esse prazer da viagem pela leitura, pelo conhecimento, pela fantasia. Ou até, alguma vez, pela banalidade e pelo trivial. As ideias voam, vem e vão, uma atiçando a outra, como num corre-corre de filhotes de cachorro brincando.

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Em meio a infelicidades sem fim, do país e do mundo, chuvas de março que não fecharam, mas encharcaram o verão, neste começo de outono você tem direito de se alienar um pouco, esvaziando a mente, a adotar a modorra. Principalmente distanciar-se de políticos sem rumo, bombas cruéis, epidemias ou feminicídios.

Põe um pouco de preguiça na sua vida, assim como no seu samba, como aqui acredito que diria o poetinha. Não muita, é verdade. Sugiro, como se fosse uma minipanaceia: a velha modorra de Lobato, sem efeitos colaterais.

A não ser a vigilante tia Filoca, que já olhou torto para mim, espionando o meu escrito, com o seu costumeiro rompante de implicância:

− Se continuar assim, meu filho, nesse não faz nada, como é que vai ser? Preguiça não faz bem para ninguém, se mexa, se organize!  Vai fazer algo de útil! Não conhece o ditado? A mente vazia é oficina do Diabo.

− Não é vagabundagem, nem vício, tia, só um refresco.

Mas vai explicar para ela…

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.    

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