Grupo de jongo Mistura da Raça: cultura popular transforma vidas e enriquece a comunidade. Foto / Divulgação

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Tirei a tarde do último domingo para dar uma conferida na programação de lazer e cultura de São José dos Campos. Tenho acompanhado tudo o que posso, mas meio de longe, através do Guia SuperBairro, que reúne as principais atividades em duas colunas aqui neste portal de notícias, uma para sábado e outra para domingo.

Fui com a minha mulher, também jornalista, ao Parque da Cidade e me surpreendi logo de cara ao ver que as famílias joseenses adquiriram um hábito que eu não conhecia. Contei pelo menos uns vinte grupos reunidos, alguns com poucas pessoas, outros com mais de 50. A maioria fazia piquenique, mas contei também pelo menos cinco festas de aniversário. Isto mesmo. Festa com mesa de salgadinhos, docinhos, refrigerantes e belos bolos com velinhas para serem apagadas.

Caminhei um pouco mais no parque e cheguei ao Museu do Folclore. Lá, umas trinta pessoas curtiam três atrações simples, singelas, mas cheias de significado. Um violeiro cantava suas modas, sem muita afinação e com o som um pouco abaixo do padrão de qualidade, mas com muita simpatia e vontade de agradar. A poucos metros, um poeta, professor que veio há muitos anos do Rio de Janeiro e fixou-se em São José, divulgava seus livros e poemas impressos e dependurados em um varal. Ao lado dele, uma doceira de mão cheia entregava potinhos de um delicioso arroz doce preparado por ela para degustação.

Cerca de 200 metros adiante, um grupo parece que ensaiava para uma apresentação tocando ritmos folclóricos com instrumentos rústicos e artesanais. Alguns deles estavam vestidos com roupas típicas, deviam estar se preparando, mas mesmo em um ensaio chamavam atenção.

Um pouco mais para o interior do parque, no anfiteatro a céu aberto próximo à Residência Olivo Gomes, outro grupo apresentava um espetáculo de dança coreografada usando figurinos e cenários simples e baratos. Fiquei sabendo que o show fazia parte da programação do Festidança, que estava em seu último dia e seria encerrado horas depois no Teatro Municipal.

Não satisfeitos, antes de voltarmos para casa, ainda passamos no deck do Banhado, na avenida Anchieta, onde em torno de 60 a 100 pessoas dançavam como nas discotecas de antigamente comandadas por instrutoras. Era o Retrô Dancing, atividade que já possui público cativo e que, dessa vez, também fez parte do Festidança.

PUBLICIDADE

Transformando vidas

Como você percebeu nesses exemplos de atividades culturais e de lazer disponíveis no fim de semana, a maioria oferecida pela Prefeitura de São José, Fundação Cultural Cassiano Ricardo e Afac (Parque Vicentina Aranha), são atrações de baixo custo e sem grandes pretensões. Mas quando a gente começa a pensar nelas como política pública, tudo fica mais claro.

O que eu pude sentir é que uma atividade como a do grupo de dança no anfiteatro do Parque da Cidade, por exemplo, traz benefícios para muita gente. Começa pelos integrantes do grupo, que têm suas vidas transformadas porque saem da mesmice de uma novela de TV ou de um barzinho e mergulham em um mundo encantado de histórias, enredos, músicas, coreografias e cenários. Levam também para suas famílias, vizinhos e colegas a mensagem de que é possível aprender, divertir-se e crescer como ser humano através da cultura.

Da mesma forma, a população que vai prestigiar essas atividades ganha muito saindo de casa, convivendo com os familiares, sentindo-se parte de um mundo em que não são apenas espectadores de atrações comerciais prontas e acabadas, mas de espetáculos em que podem sentir a energia dos participantes bem de perto, com seus erros e acertos, com suas limitações, mas também com sua garra e alegria.

PUBLICIDADE

Política cultural é isso

Resumindo. A política do poder público de São José para o setor cultural abre espaço para o envolvimento de uma grande parcela da população em dezenas de locais espalhados por toda a cidade, desde o Centro até as mais distantes periferias. Com atrações singelas como um violeiro ou magistrais, como o Festidança, um dos festivais mais importantes do país.

É muito bom ver crianças e adultos praticando cultura, aprendendo a fazer, ganhando conhecimentos, utilizando tudo isso para enriquecer as suas vidas. Isso sem falar que muitos artistas populares, de atividades circenses, músicos, dançarinos, atores, escritores conseguem engordar as suas economias com os cachês pagos pelo poder público. É uma relação em que todos ganham.

Convido você a acompanhar semanalmente o Guia SuperBairro publicado em nosso portal às sextas e sábados. São muitas opções, a maioria gratuitas e outras –promovidas por shoppings, pelo Sesc local e outras instituições– a preços acessíveis. Aposto que depois de selecionar os seus programas favoritos e montar um roteiro de fim de semana, você vai começar a se habituar a sair de casa gastando nada ou quase nada para se divertir.

Caía a noite quando eu e minha mulher chegávamos em casa depois da “excursão” pelas atrações da tarde de domingo. Foi quando veio à lembrança –minha ou dela, não me lembro– o caso dos shows sertanejos milionários contratados por prefeituras de cidadezinhas com menos de 30 mil habitantes para uma ou duas horas de diversão.

–– Já pensou o que uma cidadezinha dessas poderia criar para a população se investisse esse dinheiro em atividades para as próprias pessoas aprenderem e se divertirem? –sugeriu minha mulher.

–– É… São José está no caminho certo –disse eu.

E acabou o domingo.

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 46 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE