O filme trata com sensibilidade a doença neurodegenerativa que consume a memória de um pai de família. Foto / Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Ainda que ninguém nunca nos diga claramente “Pai e mãe também morrem!”, há muitas maneiras de se abordar a finitude dos pais… A diretora francesa Mia Hansen-Løve (“Eden”, “A Ilha de Bergman”, “O Que Está por Vir”) o fez com delicadeza e respeito à dignidade. Utilizando lembranças vividas com seu próprio pai, Mia consegue tocar profundamente a quem já se viu na condição de filha, filho, esposa ou marido de alguém com alguma doença senil ou síndrome degenerativa.

A jovem viúva Sandra (Léa Seydoux: “007 – Sem Tempo Para Morrer”, “Zoe”, “O Grande Hotel Budapeste”) é tradutora-intérprete, mora com a filha Linn (Camille Martins) e diariamente visita o pai Georg Kinsler (Pascal Greggory: “Vidas Duplas”, “Piaf – Um Hino ao Amor”, “O Professor Substituto”), que perdeu a visão em função de uma doença neurodegenerativa, que também começa a consumir sua memória.

Ele mora sozinho num apartamento em Paris, é divorciado e professor aposentado. A ex-mulher, Françoise (Nicole Garcia: “A Origem do Mundo”, “Belas Famílias”. Série “Lupin”) acompanha de perto a degeneração de Georg e mostra às duas filhas que é chegada a hora de interná-lo numa instituição para idosos, fato que se mostra profundamente doloroso para Sandra.

Em paralelo, surge sua primeira relação amorosa desde a viuvez: Clément (Melvil Poupaud: “À Beira-mar”, “O Oficial e o Espião”, “À Francesa”), um antigo amigo, agora num casamento em crise, reaviva o desejo de Sandra e lhe mostra o sol entre as nuvens sombrias do seu momento familiar.

A diretora investe na dor de uma filha que acompanha o desmoronamento físico e mental do pai, um professor de filosofia ainda admirado por seus alunos, que inclusive dividem entre si os livros de que a família se desfaz ao desmontar o apartamento dele: “(…) queria explorar a forma como podemos pôr em diálogo dois sentimentos contraditórios, um de luto e outro de renascimento, e o fato de os podermos sentir ao mesmo tempo – Mia Hansen-Løve”.

Interessante observar a postura física de derrota de Georg a cada mudança de instituição, seja pelo atendimento descortês dos cuidadores de idosos, pelo estado de demência dos coabitantes ou mesmo pela sua perda de noção do espaço mental desde que saiu de onde morava há tantos anos.

Um filme delicado, sensível, para que o espectador comece a refletir desde já sobre a possibilidade de um futuro semelhante, para si, seus pais, sogros ou avós. Como e com quem caminhar nessa estrada, que exige razão sem perder a emoção? “Un Beau Matin” (título original) está disponível no HBO Max e Amazon Prime.

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Série

‘Yellowstone’

Kevin Costner estrela série que mostra a luta pela posse de terras entre povos indígenas norte-americanos e proprietários de ranchos. Foto / Reprodução

Em sua quinta (e talvez última) temporada, esta aclamada série da Paramount está disponível na Netflix, com música e fotografia belíssimas, e é um drama baseado na luta pela posse de terras entre povos indígenas norte-americanos e proprietários de ranchos, misturando política, amor e um quê de faroeste.

O músico, maestro, compositor e arranjador Brian Tyler (“Velozes e Furiosos”, “As Panteras”, “A Cinco Passos de Você”, “Conspiração e Poder”, “Rambo”) traz uma emoção arrebatadora na canção tema “Yellowstone Theme”.

Tão forte quanto a música, é a mistura de sentimentos contraditórios, lembranças dolorosas e traumas da família Dutton, dominada pelo patriarca John (Kevin Costner: “Campo dos Sonhos”, “Dança com Lobos”, “O Guarda-Costas”, “Estrelas Além do Tempo”, “Estrada sem Lei”), um fazendeiro viúvo que luta pela sua terra e legado de mais de um século, sob a pressão de reduzir a fronteira do rancho Yellowstone, envolvendo uma reserva indígena, um parque nacional e outros donos de terra, além da cobiça de empreendedores imobiliários.

Uma filha alcoólatra e emocionalmente desequilibrada desde a morte da mãe, o filho preferido assassinado por indígenas, o caçula é caubói rebelde que abandonou a família para casar com uma descendente indígena. O mais fiel dos herdeiros desse império latifundiário é o filho Jamie (Wes Bentley: “Missão Impossível – Efeito Fallout”, “Interestelar”, “Motoqueiro Fantasma”), advogado que resolve os problemas legais do rancho e da família, mas é sempre ignorado pelo pai, que duvida da sua masculinidade e abafa qualquer sonho –inclusive o de ser promotor de Justiça da região.

Além do capataz Rip (Jake Ream: caubói e treinador de cavalos na vida real), outro personagem que se destaca é o presidente tribal Rainwater (Gil Birminghan: “Terra Selvagem”, “O Cavaleiro Solitário”, “A Qualquer Custo”), que usa sua influência junto aos indígenas –com meios um tanto suspeitos– para se manter no poder.

Em cada capítulo há cenas de fotografia belíssimas, mesmo quando a violência (explícita ou imaginada) faz parte do roteiro. Com episódios de aproximadamente 60 minutos, sugiro acompanhar com uma bela bacia de pipoca!

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> Tila Pinski é jornalista (MTb 13.418/SP), redatora e revisora de textos, coordenadora editorial e roteirista. Cinéfila, reside há 11 anos na Vila Ema.

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