Presidente Lula: time desarrumado levando vantagem sobre adversário destruído. Foto / Ricardo Stuckert/Divulgação

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Já se tornou clássico na política brasileira, cobertura da imprensa incluída, fixar 100 dias para analisar os primeiros resultados de um novo governo. No caso do governo Lula, estamos quase no intervalo do primeiro tempo desse jogo, ou seja, 40 dias na quinta-feira (9).

Não custa analisar esse período inicial. Até porque ele já produziu fatos muito significativos. Continuando com a metáfora de uma partida de futebol, vamos dividir a disputa entre dois times, o de Lula e o do bolsonarismo, já que o próprio Bolsonaro está fora de campo e, pior ainda, fora do país.

O jogo começou com lances que ninguém esperava –ou até esperava, mas não queria acreditar que fossem possíveis. Oito dias após o apito inicial –a posse–, Lula e seus jogadores recebem de presente um “golpe tabajara”, como bem definiu o árbitro Alexandre de Moraes, do STF. Como os chutes dos atacantes bolsonaristas foram todos para fora, até para além do estádio, o resultado da aventura significou um belo gol contra dos golpistas. Com oito dias de governo, Lula passou a ganhar de 1 a 0 sem ter feito absolutamente nada para isso.

Com o astro do time bolsonarista “contundido” na terra da Disneylândia, sua equipe ficou perdida em campo. Passes errados, retranca, cartões amarelos para todos, a coisa ficou feia, quase igual ao início do 7 a 1 que uma certa seleção tomou algum tempo atrás.

E seguiu o jogo. Perdendo de 1 a 0, o time da direita mal tentou reagir e já cometeu um pênalti violentíssimo em cima de um jogador que usava tanga e cocar, um ianomâmi. “Que botinada covarde”, lamentou um comentarista da partida. O centroavante Dino, dos lulistas, mesmo meio fora de forma, bateu bem –bola em um canto e goleiro no outro– e ampliou para 2 a 0.

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Tudo bem para a equipe que vai vencendo o clássico? Nem tanto. Quando tem que mostrar o seu jogo, o time de Lula erra a saída de bola, lança mal, não tem esquema tático e mostra que não fez uma boa pré-temporada. Preocupante, torcida brasileira.

Começando pela escalação do time. Muita gente entrou só com o nome ou com a base onde iniciou a carreira. Tem indígena, tem irmã de vítima de assassinato, tem cantora não gestora, tem branco no samba da economia, enfim, assim esse time não joga.

O próprio fundador do clube resolveu esquecer a bola e entrou de sola em um dos bandeirinhas, o presidente do Banco Central. Quer que a responsabilidade fiscal vá expulsa para que ele tenha uma avenidaça pela frente para atacar com o ligeiro ponta-esquerda chamado gasto público, em alta velocidade, sem marcação e sem arbitragem para atrapalhar.

O ministro do Trabalho, jogador meia boca, resolveu dizer que ele é quem vai cuidar do dinheiro do FGTS do trabalhador porque o brasileiro não pode ver dinheiro que já sai gastando; uma outra jogadora –ah, esse futebol é misto– já começou dizendo que, com esse Congresso, não dá para tratar de aborto, como se a solução fosse trocar de Congresso; e tem o chefão da Defesa, que quase foi expulso logo no início da partida ao dizer que tinha muitos amigos e parentes na torcida organizada do adversário. Pegou mal…

Precisava mais? Não precisava. Mas teve mais. Nos últimos dias, surgiu nas redes sociais um videozinho curto de uma outra perna de pau, a nova ministra Luciana Santos, que deveria estar cuidando da ciência e tecnologia no país, mas abriu um “comício” da UNE, na última sexta-feira (3), incitando a torcida contra o mesmo Banco Central para dizer que o verdadeiro adversário chama-se Selic.

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Ou seja, esqueceu sua posição, onde o Inpe tem praticamente pronta uma belíssima jogada aérea com um nanossatélite, para fazer um jogo rasteiro e, pior, foi tentar jogar no espaço de campo do Haddad, outro jogador que não é muito especialista no que tem de fazer. E entre as “cumpanheiras” da ministra, quem estava lá? Uma representante do partido comunista do Chile e uma outra socialista da Venezuela. [Clique aqui e confira no VAR.] O narrador até perdeu a paciência: “Presta atenção no jogo, pô!”

E assim caminha a Humanidade. Com todo um segundo tempo para jogar, até agora nada indica que o time de Lula vá começar a mostrar um bom futebol. Pior que isso, apesar de estar vencendo por 2 a 0, pode começar a perder bolas fáceis e se complicar. Até o dono do time, que irá fazer um intercâmbio com Joe Biden, o dirigente da seleção dos Estados Unidos, parece que não entendeu em qual campeonato está jogando. Disse que vai discutir com Biden a situação de Cuba e da Venezuela. Algum cronista esportivo poderia avisá-lo que não se trata de uma cúpula entre duas superpotências? Vai lá tratar do Brasil que é melhor, joga a sua bolinha e não enfeita…

Corremos o risco de chegar ao final deste primeiro jogo, o jogo dos 100 dias, sem que a equipe de Lula faça uma jogada certa sequer –até agora apenas um esboço de boa armação de jogo na diplomacia–, dependendo do time de Bolsonaro continuar pisando na bola com pênaltis, soladas, carrinhos, agressões aos árbitros e gols contra o patrimônio. Ou seja, está jogando no erro do adversário.

“Haja coração, torcida brasileira!”, dramatiza o narrador.

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PONTO A PONTO

A tchurma do sobrenome

Na Funarte: entrou por ser Maria ou por ser Marighella? Foto / Aju Paraguassu/Divulgação

O governo Lula (PT) criou vários ministérios-vitrine para reforçar setores com os quais pretende lhe dar uma cara progressista. São os casos dos ministérios da Igualdade Racial, dos Povos Indígenas, das Mulheres, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, dos Direitos Humanos e Cidadania, entre outros. Até aí, normal.

Porém, tem ficado claro que um sobrenome ligado à chamada resistência contra a ditadura abre boas portas para quem deseja entrar no time. Já era o caso de Anielle Franco, irmã da vereadora carioca Marielle, assassinada em 2018. O mais novo sobrenome ideológico é o da baiana Maria Marighella, nomeada presidente da Funarte em portaria publicada na terça-feira (7).

Alguém que assina Lamarca estaria a fim de entrar no governo? Pelo jeito, é só pedir.

Muy amigos

Mas não é só a esquerda que dá trabalho para Lula nesse início de terceiro governo. Até a centro-direita –ou direita declarada, por que não?– instalada no União Brasil conseguiu dar dois presentes de grego para compor o ministério. Como se não bastasse a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, ter todos os indícios de uma proximidade não republicana com a milícia fluminense, vem o notório Juscelino Filho, das Comunicações, e confessa que dinheiro do governo jorrou para beneficiar uma construtora que executou obras “coincidentemente” onde sua família possui várias fazendas lá no Maranhão.

Juscelino: havia umas fazendas no meio do caminho. Foto / Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

E os dirigentes do União ainda reclamaram, no início da formação do ministério, que estava havendo má vontade com os nomes indicados pelo partido. Por que será?

Desembarcando

Em São Paulo, o maior estrategista da política brasileira nos dias atuais, o presidente do PSD e secretário estadual de Governo, Gilberto Kassab, que está conseguindo colocar os pés em todas as canoas que lhe interessam, já iniciou a operação de desembarque do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) do barco bolsonarista.

Em entrevista ao portal UOL, publicada na terça-feira (7), Kassab disse ser um erro chamar Tarcísio de bolsonarista, classificando-o como “um político moderado”. Tudo indica que, quando Jair Bolsonaro acordar de sua letargia, não terá mais nem o número do celular do seu ex-ministro.

Kassab sobre Tarcísio: um político moderado. Foto / PSD/Reprodução

NA CITY

De olho em 2024 (1)

O prefeito Anderson Farias (PSD) continua pilotando a cidade em velocidade de cruzeiro, optando pela segurança na viagem. Mas, ao mesmo tempo, não esconde uma espécie de agenda paralela em que procura mostrar a cara para o eleitor que irá votar em um novo prefeito em 2024.

Anderson tem tomado cafés da manhã em lugares públicos, almoçado em restaurantes movimentados, sugerindo indiretamente ao eleitor: “Por que não eu?”. Para se ter uma ideia da seriedade dessa operação, basta dizer que o prefeito começou a comer pastel em público mais de um ano e meio antes da campanha.

Prefeito Anderson, com a primeira-dama Sheila Thomaz: preparando o fígado para 2024. Foto / Facebook/Reprodução

De olho em 2024 (2)

Mas, como se costuma dizer, “a cada ação cabe uma reação”. É o caso da dinâmica dupla Emanuel Fernandes e Eduardo Cury, ambos do PSDB. O primeiro, reencarnou um filósofo grego e foi para as praças trocar ideias com o povo.  A ágora mais recente aconteceu na praça do Sol, na Vila Icaraí, região do Jardim São Dimas.

A palestra teve direito a presenças ilustres do tucanato joseense: o próprio Cury, a vereadora Dulce Rita, que disputou a última eleição como candidata a deputada estadual, e o presidente do partido, José de Mello Corrêa, entre outros.

A briga promete ser boa no final do ano que vem…

Emanuel Fernandes: na praça, como os gregos. Foto / Marcos Nogueira/Cedida

Juruna moderno

Em tempo de ianomâmis nas manchetes –um crime de genocídio ocorrendo bem perto de nós–, por que não reviver o velho deputado Mário Juruna, brizolista do PDT, que ia de gravador no pescoço para registrar as falas dos governantes? Com muito mais classe e tecnologia, o jornalista e vereador Thomaz Henrique (Novo) percorreu salas e corredores da sede da Secretaria de Educação na última terça-feira (7) para saber por que foi proibido de visitar quatro escolas municipais para exercer o seu papel de fiscalizador.

Ao serem filmados, os servidores se assustaram um pouco, mas bem que tentaram interagir e ter um bom desempenho na telinha. Alguns devem ter pensado, aliviados: “Podia ser pior, podia ser o Celso Russomanno…”.

Thomaz Henrique: 1, 2, 3… gravando! Foto / Facebook/Reprodução

Gatilho na Câmara

Roberto do Eleven: Câmara sob nova direção. Foto / Flávio Pereira/CMSJC

Na quinta (9), a Câmara Municipal, agora sob o comando do vereador Roberto do Eleven (PSDB), aprovou o projeto de lei nº 34/23, que aciona o gatilho salarial de 5% para os servidores da Prefeitura. Uma emenda estendeu o reajuste aos funcionários do Legislativo e também foi aprovada. A reposição das perdas dos salários para a inflação vai custar R$ 42 milhões ao Executivo e R$ 2 milhões ao Legislativo.

O projeto de lei nº 321/22, de autoria do vereador Marcão da Academia (PSD), que autorizou a Prefeitura a criar o programa Ronda da Saúde, também foi aprovado. A ideia é realizar patrulhamento preventivo nos locais de atendimento ao público da Secretaria da Saúde para garantir a segurança física das instalações e pessoal dos funcionários e usuários.

APOIO SUPERBAIRRO

TOQUE FINAL

“Aquele que não pode raciocinar, é um tolo. Aquele que não quer, é um fanático. Aquele que não ousa, é um escravo.”

Andrew Carnegie

Empresário e filantropo, fundador da Universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos. Nasceu em 25 de novembro de 1835, em Dunfermline (Reino Unido), e morreu em 11 de agosto de 1919, em Lenox, Massachusetts (EUA).