Foto / SuperBairro

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

− Ô, seu filho da pulga, tá dormindo? −urrou um jovem grosseiro. Isso ocorreu porque, desavisado e lento, saí de carro no fim de uma tarde em São José dos Campos e titubeei no cruzamento do famigerado Arco da Inovação, também conhecido como bolinho caipira. Logo vi que era má ideia e o tresloucado condutor de automóvel me lembrou disso, polida e rapidamente.

Na verdade, rompendo minha rotina cautelosa, de não sair dirigindo em horários de pico, o que se viu nesses anos pós-pandemia foi um aumento assombroso do tráfego de veículos. Está na cara que a cidade cresceu muito, tanto que −pelo que li na mídia− houve erro para menor na última estatística.

São José de fato está virando uma cidade grande, de maneira acelerada, embora inevitável; seja para o bem, seja um bocadinho para o mal. Muita coisa se alterou nas últimas décadas, de cidade pequena e pacata, daquelas em que as autoridades são o prefeito, o juiz, o delegado e o padre, para uma metrópole onde o poder é mais difuso e não se conhece mais ninguém.

O comércio naquelas décadas de início de desenvolvimento era incipiente, não dando muitas opções, exigindo, no caso de necessidade de boas compras, a rotina de pegar a estrada e comprar em São Paulo. Outra época, diria alguém. Longe do que hoje ocorre, estando São José bem servida pelo comércio, sem necessidade de ir à loja Dutra, via Pássaro Marrom.

Ademais, todos observam que o comércio lojista agora está em baixa, as compras, na sua maioria, são feitas por meio da internet. Sai mais barato e a entrega de um modo geral não tem demorado. Além disso, é possível buscar sites seguros, evitando fraudes e compras temerárias, enfim, o sistema está se aprimorando aos poucos. No entanto, pena que o comércio lojista ficou prejudicado.

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Nas relações sociais, esqueça a época de visita a amigos, nem mesmo parentes escaparam dessa vida isolada e corrida. A vida moderna é intensa, cheia de novas exigências. As infelizes crianças e adolescentes desde muito não escapam de ir ao sapateado, balé, inglês, futebol, academia, nas festinhas infantis e eventos escolares, reforço, além da escola propriamente dita. Sem contar médicos, dentistas e vacinas. Em suma, não sobra tempo nem para eles, nem para os pais. Sem falar em amigos e parentes.

A saída são as redes sociais, substituindo os antigos contatos pessoais por postagens e conversas curtas, via o tal zap-zap. Telefonemas, assim como visitas, já eram: melhor gravar mensagens escritas ou áudios curtos. O diálogo pessoal ou por telefone toma muito tempo.

A zangada tia Filoca sempre me adverte, no seu jeito desabusado:

− Zezinho, não apareça na casa de ninguém sem avisar. Muita gente não gosta nem de receber. Veja que boa parte não gosta de ter suas rotinas atrapalhadas. E detesta receber em casa desarrumada, sem ter alguma coisa para servir. A verdade, meu filho, é justo que ninguém quer parecer feio e desleixado. Quer mostrar beleza, mesmo para aqueles de quem se gosta. Já para os benditos de quem não se aprecia muito, não pode deixar que saiam por aí fofocando, né?

É, tia, mas fica a saudade do abraço amigo e fraternal, principalmente daquele do papo sem fim…

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.  

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