E esse olhar amoroso em direção à rainha? Foto / Bettmann Archive

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Ela tinha sete anos quando seu pai, o rei George VI, presenteou seus filhos com um cachorrinho da raça corgi. Ela se apaixonou tanto pelo animalzinho e por essa raça que, até a sua morte, no último dia 8, aos 96 anos, a rainha Elizabeth II, teve mais de 30 cachorros das raças corgi e dorgi, este último, uma mistura do corgi com daschund, conhecido como salsicha.

A rainha se deixou fotografar inúmeras vezes com seus cachorros, até porque ela vivia rodeada por eles, mesmo em eventos oficiais e, sempre que possível, os levava também nas viagens –e na primeira classe. Talvez seja por isso que o corgi ficou conhecido como o cão da realeza.

Esse apego aos bichos de estimação sempre fez parte da história da rainha Elizabeth. Para se ter uma ideia, quando ela se casou com o príncipe Philip, em 1947, aos 21 anos, ela simplesmente escondeu a sua cachorrinha Susan sob o tapete da carruagem real e a levou junto para a lua de mel. Susan, também uma corgi, foi uma das mais queridas pela rainha, viveu por 15 anos e foi enterrada na casa de campo monárquica.

Dookie, o primeiro corgi da rainha. Foto / Historia/Shutterstock

Ô vida boa…

O livro “Pets by Royal Appointment”, de Brian Hoey, dá detalhes de como era a vida desses pets dentro do palácio. Pra começar, era a própria rainha quem supervisionava a comida dos bichinhos. Um funcionário da realeza preparava as refeições, e o jantar, por exemplo, era servido em uma bandeja, pontualmente às 17h. Na dieta de um cachorro da rainha da Inglaterra, diz o livro, sempre há bife bovino, peito de frango ou carne de coelho.

E as mordomias não param por aí: os cachorros foram a inspiração para a “Sala Corgi”, um ambiente no palácio criado especificamente para os cachorros da rainha. Lá eles dormiam em cestos elevados –para os protegerem das correntes de ar– e sobre lençóis que eram trocados todos os dias. Ô vidinha ruim, hein?

No colinho da mamãe e não da rainha. Foto / Joan Williams/Shutterstock

Os cachorros da rainha talvez –ou melhor, com toda certeza–, sejam os únicos no mundo que estamparam capas de revistas famosas, como a “Vanity Fair”, participaram de abertura de Jogos Olímpicos e fizeram parte da estampa de uma moeda.

Quem não se lembra da cena surreal e muito engraçada em que, na abertura dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, o ator Daniel Craig, interpretando James Bond, se encontra com a rainha Elizabeth II no palácio de Buckingham e, por fim, ambos pulam de paraquedas e caem dentro do estádio onde os cachorrinhos estão à sua espera?

Nas reuniões de trabalho, lá estavam eles. Foto/ Shutterstock

Os corgis da realeza, com certeza, vêm deixando um legado duradouro. Já foram retratados em filmes, desenhos animados, fotos, estátuas, quadros e até mesmo na moeda da coroa comemorativa pelo Jubileu de Ouro de Elizabeth II, que traz a estampa das figuras da rainha e um cachorro dessa raça.

E mesmo diante de toda essa exposição, acredite, o corgi já esteve ameaçado de extinção em 2014, quando havia apenas 274 cachorros corgi registrados. Foi graças à série “The Crown”, inspirada na vida da rainha, que a raça voltou a ser procurada, saindo da lista de cachorros em risco de extinção em 2018.

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Quem vai ficar com eles?

Aos 90 anos, a rainha Elizabeth II decidiu que não queria mais criar cachorros, com medo de deixá-los órfãos após a sua morte.  A dinastia dos corgis foi encerrada em 2018 com a morte de Willow, o último dos corgis da rainha.

Mas, em meados de 2021, seu filho Andrew a presenteou com dois corgis, batizados de Muick e Sandy, com o objetivo de levantar o ânimo da monarca enquanto seu marido, o falecido príncipe Philip, estava no hospital em meio ao isolamento imposto pela pandemia da covid-19. Realmente, isso trouxe um certo conforto para a rainha, que era vista caminhando com os bichinhos pelos terrenos do Castelo de Windsor.

A ligação de Elizabeth II com os corgis sempre foi tão forte durante a vida da monarca que, tão logo foi anunciada a sua morte, começaram as especulações (e várias fake news) sobre o que iria acontecer com os cachorros da rainha. Mas o príncipe Andrew e sua ex-mulher Sarah, duque e duquesa de York, se adiantaram e anunciaram que ficariam com a guarda dos cachorros.

É claro que todos esses cachorros foram privilegiados em nascer e viver com Elizabeth II. Não pelo fato dela ter sido rainha, ou ter morado em castelos, ou comerem carne de primeira, ou ainda dormirem em lençóis limpos, mas pelo imenso amor que ela dedicou a cada um deles.

Xeretando a Internet para escrever essa coluna, me deparei com inúmeras fotos da rainha com seus corgis e dorgis. Pelos olhares e atitudes, dá pra sentir o carinho entre eles, e não pelo que ela era nesse mundo, mas sim pelo que ela representava no mundo deles e o que eles representavam num mundo que era só dela.

Curiosidades: Existem dois tipos de corgis, o Welsh Corgi Cardigan, com o rabo mais comprido e peludo, e o Pembroke Welsh Corgi, com o rabo mais curto, sendo essa a raça pela qual a rainha se apaixonou. O valor de um filhote varia entre R$ 5 mil e R$ 6 mil para os machos, e entre R$ 5.500 e R$ 7.500 para as fêmeas. O corgi cardigan é mais difícil de ser encontrado no Brasil.

Adote

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