Meu pai, Il Bambino Gesù. (1921). Foto / Arquivo de família

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Papai nasceu no dia da mentira, 1º de abril, nunca me esqueci do que ele falava a respeito. Nem poderia, ele era um bom contador de estórias e anedotas, pena ter me esquecido dos detalhes dos inúmeros causos, pois ele se foi e eu ainda não era voltado para lembranças, focado em coisas que entendia prioritárias.

Dizia, veja só, que ele era um bebê tão bonito que um amigo da família, italiano, ao fazer a visita de praxe, teria exclamado: − Esse menino parece Il Bambino Gesù! – Descontado o entusiasmo do reverente e exuberante italiano, bem assim do narrador, parecer o menino Jesus sempre me soou como uma bajulação, senão um sacrilégio, nem ouso cogitar que fosse mentira. Nada a recriminar, aqui mero ensejo para falar do 1º de abril.

A mentira, especificamente e sob um dos seus aspectos, é assunto atual, basta ver na mídia a discussão relativa às tais fake news, notícias mentirosas, inventadas para beneficiar algum político, entre outras finalidades antiéticas. Questão atual ligada ao desenvolvimento das comunicações, das mídias sociais, a ser solucionada após amplos estudos. Não é tarefa fácil.

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Voltando ao Dia da Mentira, este ao que parece nasceu na França, no século XVI, espalhou-se pelo mundo ocidental, chegou ao Brasil no início dos anos 1800, a tempo para uma falsa notícia da morte de Dom Pedro I. O costume é enganar os outros nesse chamado Dia dos Tolos (EUA), fazendo brincadeiras, lembrando as conhecidas pegadinhas da TV.

Essas brincadeiras pressupõem uma mentira, algo condenado pela maciça maioria, embora praticado por quase todas as pessoas em algum momento da vida, sobretudo por políticos maquiavélicos de diversas colorações. Mentirinhas ou grandes mentiras, sempre mentira ao ver de alguns.

Anoto que Monteiro Lobato, na voz da contestatória Emília, levantou a questão da mentira piedosa, mentirinha para o bem. Você teria coragem de dizer a verdade a uma mulher que perguntasse se achava ela bonita ou não? Quase pior: a um doente se indagasse a respeito do seu tempo de vida? Questão não só tormentosa como temerária.

Mas conversei com tia Filoca a respeito do assunto e ela me respondeu com sua costumeira irreverência:

− Comigo é ali, na fuça, não minto não. Mas depende de quem está ouvindo, se merece ou não ouvir a verdade. Às vezes é um coitado ou sem noção, a gente desconversa. Agora, tem muita gente que não quer ouvir a verdade e vem constranger a gente com perguntinhas. Se não fica vermelha para perguntar, eu também não fico vermelha pra dizer a verdade!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.     

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