Foto / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Neste verão chuvoso, mas escaldante, ao entrar num desses quiosques de praia, na paradisíaca Ubatuba, deparei-me com o proprietário sozinho numa mesa, já falando ao telefone celular. Era cedo, mesas ainda vazias e lá estava o cidadão trabalhando.

Nada simpático –se não seco– seu estabelecimento está na melhor localização da praia, frequentado há décadas pela minha família. O sujeito –de pai para filho– parece tocar o negócio só pela situação aprazível, numa praia linda, em frente a um mar azul e areias brancas. As circunstâncias e sua má catadura –expressão rebarbativa, diriam os antigos– levaram-no ao apelido de Barão do Quiosque. Só entre nós.

Acredito que tem outros negócios, como seus parentes, tanto que não sai do celular. Vende aqui, cuida de lojinha ali, dá ordens, enfim, administra prováveis estruturas econômicas em uma situação confortável, e acrescente-se: de bermuda, camiseta e chinelos de dedo. O chalé, talvez, não dê muito lucro, no entanto serve de escritório atraente e belo.

Pensei comigo. Quantas vezes –ou no mais das vezes– deixamos de escolher um lugar mais agradável para o nosso trabalho, quando isso é possível?  Seja você operário, médico ou advogado, comerciante ou industrial, engenheiro ou professor, empregado em indústria ou prestador de serviço, do lar ou das ruas, não poderia fazer como o nosso quiosqueiro-empresário, se ajeitar num lugar prazeroso?

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Com a pandemia, muitos encontraram resposta no trabalho “home office”, alguns detestaram, pois ficaram sob o jugo da família e tropeçando em aspiradores de pó, longe do papo com os colegas ou das fofocas. Quando não se transformaram em impertinentes críticos do lar, para o horror de parceiros.

O futuro certamente estará na conformidade do trabalho com um bom conforto dos meios, mercê dos avanços tecnológicos. Já estamos experimentando o início dessa evolução. Não se pode esquecer que o importante como meta humana é o próprio homem, individual e coletivamente, não entidades econômicas ou coisas.  A ciência trará a todos, no futuro, condições mais vantajosas de trabalho, menos tempo, menos desgaste, até porque ninguém é de ferro. É preciso de tempo para viver, com qualidade de vida, resgatando mesmo aquela suposta condição de liberdade do “homo sapiens” num passado longínquo.

Tudo se encaminha para isso, mesmo que aos trancos e barrancos.  Mas, enquanto o futuro não vem, o que não dá –gente− é a mulher dizer a você diariamente, visivelmente estressada:

− Volte a trabalhar como antes, homem! Eu não aguento mais você “home office”! Nem de férias!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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