Foto / Ebec/Divulgação

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

A frase “tucano está sempre em cima do muro” não combina com FHC. Às vésperas de completar 90 anos e com disposição suficiente para o lançamento do seu último livro “Um intelectual na política – memórias”, Fernando Henrique foi assunto na semana quando disse em entrevista por videoconferência: “E se ficar entre Lula e Bolsonaro, temos de escolher entre um dos dois. Da última vez, não escolhi. Desta vez não vou fazer isso. É preciso escolher. E eu não vou escolher o Bolsonaro”.

O cenário político para 2022 provavelmente será este e o mestre tucano tá certo. De um lado o presidente Jair Bolsonaro. Do outro, Lula.

Diferentemente dos políticos tradicionais, que normalmente se enrolam por não cumprir as promessas feitas, Bolsonaro está entregando exatamente o que prometeu.

Certamente sairá com ranhuras da CPI da Covid. A má condução da pandemia reflete nas recentes pesquisas que apontam o petista para uma possível vitória ainda no primeiro turno. Mas, pesquisas são pesquisas.

Bolsonaro vê seu governo colecionar medalhas do descrédito por boa parte da população. Nenhum governo se sustenta governando para minorias.

Lula, por sua vez, vai precisar de muita borracha para apagar a mácula que se alastrou pela sua trajetória política. Ele que lute.

Muitos querem uma terceira via. Que seja. Mas não há muitas opções hoje. Nem mesmo um outsider para surpreender a corrida eleitoral. Amoedo, Luciano Huck, Sergio Moro, João Dória não passam de 8 pontos percentuais nas pesquisas. Tudo bem. Ainda é cedo. Mas, começa a ser desenhado o pelotão de frente.

Voltando ao FHC o fato é: existe claramente uma ampla frente de centro-esquerda que quer um velho projeto de Brasil que deu certo por um tempo. Mas, que para continuar, vai ter que “rebolar” para se reinventar.

Resumindo a ópera, Fernando Henrique deixa claro a máxima de Deng Xiaoping, já utilizada pela mesma frente contra os governos petistas: não importa a cor do gato, contanto que ele cace o rato. E parece que o atual presidente da República (sem partido) é o rato da vez.

 

*“Um intelectual na política – memórias” – (Companhia das Letras, 432 págs., R$ 69,90).

 

> Isnar Teles é jornalista (MTb nº 22.533) há 34 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Adyana.