É muita preguiça. Ilustração / Ralf Designs/Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Já vou avisando que a coluna de hoje está repleta de dardos que voarão para todos os lados. Ando um tanto quanto indignada com algumas situações a ponto de acreditar que aquele meme que circula pelas redes sociais dizendo que “o problema do Brasil é o brasileiro” faz total sentido, e vou explicar o porquê.

Desde maio venho recebendo notificações da Prefeitura de São José dos Campos para castração gratuita de cães e gatos por meio do Castramóvel, um veículo totalmente equipado que vai até um determinado bairro para realizar a castração dos animais gratuitamente.

A primeira coisa que faço é repassar essa notificação para o maior número de pessoas e para algumas eu até converso sobre a necessidade de castrar os animais. Pois bem, mês passado enviei para uma pessoa e ela disse que o Castramóvel ia parar muito longe da sua casa e que não teria como ir. Ok, entendi, considerando que a pessoa não possui carro.

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Semana passada, entretanto, o Castramóvel estava a duas quadras da casa dessa mesma pessoa e eu corri enviar mensagem. Fiz o mesmo com uma outra família que tem uma cachorra que necessita de castração. Para essa, inclusive, arrumei carona para que a pessoa fizesse a inscrição (sabendo da situação financeira difícil pela qual a família passa) e uma outra carona para levar a cachorra no dia da castração.

Pergunto: você acha que alguma dessas pessoas fez o que tinha que fazer? Não, sequer responderam as minhas mensagens, sequer deram satisfação. Uma não se dignou a andar dois quarteirões e a outra, mesmo com toda a mordomia de leva pra lá e pra cá, nem respondeu. Fala a verdade se o brasileiro não é o grande problema?

Confesso que fiquei chateada com essas atitudes, porque está tudo ali, de bandeja e a pessoa insiste em não fazer o que é certo, mesmo que seja instruída sobre a necessidade da castração. O que acontece, afinal? Eu arrisco dizer que é pura preguiça.

Preguiça de sair da zona de conforto, mesmo que esse conforto seja uma zona, o que acontece na maioria das vezes. Uma preguiça instalada de tal forma que a pessoa já se acostumou tanto com aquilo que prefere continuar se fazendo de vítima e chorando a difícil situação pela qual passa.

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Falta política

Desde maio, contei mais de 1.100 vagas que a Prefeitura abriu para a castração de cães e gatos por meio do Castramóvel. Parece que é muito, mas é pouco, considerando o grande número de animais que necessitam desse serviço. E falta também informar as pessoas, conscientizá-las da necessidade de castrar o animal para que diminua o número de animais abandonados pelas ruas. E, principalmente, dar uma atenção especial para quem é protetor, eles necessitam demais desse serviço porque já arcam com inúmeras outras despesas.

E no meio disso tudo tem ainda aquela pessoa que possui condições financeiras para castrar o seu animal numa clínica particular, mas faz questão de usar esse serviço gratuito. Pode? Claro que pode, é direito dela. Mas se a pessoa tiver um pouquinho de senso moral ela vai no finalzinho das inscrições, verificar se sobrou alguma vaga. Me parece que não foi bem isso o que aconteceu na semana passada quando o Castramóvel estacionou no DCTA.

Castramóvel de São José dos Campos. Foto / Charles de Moura/PMSJC

Enfim, é o brasileiro colaborando para que as coisas não funcionem. Seja porque tem preguiça, seja porque tem direito, seja ainda porque fez a inscrição, mas decidiu de última hora não ir mesmo sabendo que estaria pegando a vaga de outra pessoa. E pra piorar a situação, falta política do município para combater, de forma mais eficaz, o problema dos animais abandonados nas ruas e dar assistência médica gratuita –de verdade– para aqueles que não têm condições ou são protetores.

Esses dias li um post em que uma moça contava da adoção que seu pai fez de uma cachorrinha por meio do Centro de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman, que fica no bairro da Mangueira, no Rio de Janeiro. Pasme, os animais adotados por meio desse hospital recebem tratamento gratuito para o resto de suas vidinhas. Nossa, mas me deu muita inveja!

Primeiro, por saber que existe um hospital veterinário que atende gratuitamente os animais de pessoas sem condições financeiras na hora que eles precisam –e não quando já estão nas últimas de tanto esperar. E também por saber desse programa que une o útil ao muito agradável: o animal abandonado, um lar e atendimento médico gratuito para todo o sempre.

Daí surge até uma esperança de que as coisas possam dar certo, de que o brasileiro possa ser, sim, a solução do Brasil, desde que ele tenha bom senso e empatia; desde que exista vontade política; e desde que todo mundo pare com tanta preguiça de ser e de fazer. Será que é pedir muito?

Adote

> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.

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