Foto / Vana Allas/Arquivo pessoal

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

 

Não me lembro o dia –o tempo– em que notei que tinha este “monstrinho sagrado” como vizinha: professora Thereza Myrthes Mazza Masiero. A minha vizinha Dona Myrthes!

Sempre tão gentil, comecei a observá-la por sua delicadeza no trato com minha família; também por seu vocabulário requintado combinando com sua doce voz. Uma vez, ela teve uma ferida na perna e eu, a observando no cuidado do local e buscando ajudá-la, disse-me:

–– É uma dor pungente, menina! –nossa, até nessas horas ela fala “bonito”, pensei.

Mas se você, querido leitor(a), pensa que Dona Myrthes é digna de dó, muito está enganado(a)! Ela é uma torre alta!

Eu, que há cerca de 30 anos ainda troco os nomes dos vizinhos neste edifício de 13 andares, me senti honrada quando fui convidada para acompanhá-la a assistir a um filme, pela primeira vez. Ela, na sua poltrona preferida bem em frente à TV e eu ao seu lado, num sofá comprido e cheio de almofadas coloridas!

–– Você não quer um banco para os pés, querida? –este é seu estilo de receber a gente. E só se sai daquele apartamento com a barriga bem satisfeita! Cafezinhos, doces, chocolates, balinhas e castanhas, castanhas de diversos tipos…

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Outra história só nossa foi quando ela se dispôs a pintar meus cabelos! Resultado? Minhas mechas e um pedacinho de seu tapete ficaram rubros… rs…  ela não demonstrou qualquer irritação. Seu bom humor me mostrou no que se deve dar importância na vida:

–– Isto é coisa que acontece nas melhores famílias, querida! –comentou risonha.

Ela, sempre muito bem vestida e perfumada; sua sala com uma cortina bege escura tem muitas flores de plástico que dividem espaço com alguns de seus troféus, medalhas que só expõem pequenos traços da grandeza da profissional que é. E para quem nunca ouviu falar –o que para mim parece impossível–, Dona Myrthes Mazza é professora de Letras –ai de mim!

Já foi diretora e coordenadora de ensino na Diretoria do Estado de São Paulo. Também teve cargo de grande responsabilidade na Universidade do Vale do Paraíba (Univap). Ela é eterna: tem cadeiras nas academias Joseense e de Lorena, de Letras. Só para se ter uma ideia, é embaixadora da França por sua prosa “Amizade”, a qual ela já declamou só para mim. (Eu “me achando” mesmo! rs…)

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Mudando um pouco de assunto… há três dias voltei de uma viagem de cerca de 30 dias… nesse período, nem me lembrei de Dona Myrthes. E ela, nesse período, também foi passar um tempo na casa de um de seus quatro filhos.

Agora que voltei, senti sua falta e meu pai me disse que ela veio no início da semana ao seu apartamento e passou para visitar minha mãezinha…

Neste tempo distante, me revisitei. Observei a vida que estava levando e concluí o quanto isto é imprescindível: parar para reorganizar o Caminho! Pois quando estamos perto demais não enxergamos direito, não damos o real valor às coisas e às pessoas que merecem o melhor de nós!

Senti saudades da minha família –chorei a falta do meu sobrinho Lucas– e fiquei com vontade de escrever para você, meu leitor(a).

Este olhar clínico também me fez entender que é tempo de me focar em outras coisas…

Voltei, não vi minha vizinha querida.

Sobre mim e você, leitor(a), não sei quando nos encontraremos novamente. “Escrever dói”, crescer dói. E eu preciso encontrar um novo jeito e melhor, mais puro, de escrever. Dona Myrthes é um grande exemplo! Dona Myrthes, eu verei muito brevemente.

Para nós, até um dia! Tomara seja breve! Com amor, Vana Allas.

 

> Vana Allas é jornalista (MTb nº 26.615), licenciada em Letras (Língua Portuguesa) e pós-graduada em Filosofia da Comunicação. É autora do livro “Vale, Violões e Violas – Uma fotografia do Vale do Paraíba”. Mora na Vila Icaraí.