Júlia (à esq.) com os amigos Carlos Alberto e Priscila em frente à Basílica de Aparecida. Foto / Júlia Duarte/Arquivo pessoal

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

A pé de São José dos Campos a Aparecida. Na sexta-feira (7) saiu a Júlia; na segunda (10), o Adalberto.

Veterana em longas caminhadas, Júlia é adepta desses desafios. Com fé, caminhou outras vezes até a terra da Padroeira do Brasil por ocasião de 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida. Desta vez foi pelo Caminho da Fé, paralelo à via Dutra.

Adalberto seguiu pela Dutra. Joseense, o romeiro de primeira viagem radicado nos Estados Unidos desembarcou sábado em Guarulhos e veio de carro para São José dos Campos, de onde, com amigos, pôs o pé na estrada para agradecer à santa uma graça alcançada.

Destino buscado por caminhos diferentes; histórias de perseverança, religiosidade, suor e fé, que você, leitor(a) do SuperBairro, confere aqui.

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Júlia

Meu nome é Júlia Maria Marcondes Duarte, engenheira, moradora no Jardim Aquarius, em São José dos Campos.

Faltava pouco para as 5h30 e eu estava em frente à igreja de Santana, na zona Norte, de onde saí em peregrinação. Tinha chovido à noite deixando a temperatura bem agradável para caminhar.

Participei de várias romarias, mas com grupos menores. Fui tanto pela Dutra quanto por caminhos alternativos. Desta vez a turma era grande. Uns duzentos romeiros, calculo. No céu, nuvens, mas sem chuva. Saímos depois da bênção do padre. A primeira parada foi no clube Luso-Brasileiro, para o café da manhã.

Não sabia se ia pegar chuva ou sol. Mas para mim o início foi bem legal, por conta das paisagens daquela região da cidade, que eu não conhecia. Encontrei amigos que não sabia que estavam no grupo. Fiquei feliz com o encontro.

Seguiu a caminhada e alguns começaram a sentir pernas e pés. Sempre uso um bastão de apoio, que me ajuda bastante. Tem gente que se apoia em cabos de vassoura e até bambus. Paramos para almoçar em Caçapava, na igreja Menino Jesus. Comida simples, mas boa, com arroz, feijão, macarrão, farofa, frango e salada. Limpei o prato! Foram 25 quilômetros de estrada até aquele ponto. Estava exausta.

Na parada a gente aproveitou para pôr a perna pra cima e relaxar. Outro correu buscar um analgésico na farmácia. Reiniciada a caminhada, uns 10km depois chegamos à igreja Nossa Senhora da Conceição de Quiririm, em Taubaté, onde comemos um gostoso pastel oferecido pela comunidade.

Dali fui parar em Tremembé, onde, depois de uma missa na igreja de Bom Jesus, foi servida uma canja. A opção era dormir num salão, mas fui para uma pousada ao lado. Tomei um banho refrescante, dormi bem e no dia seguinte saboreei um bom café da manhã. Às 7h, missa. Depois, foi enfrentar o sol. O dia estava lindo e o sol quente obrigou-me a uma dose maior de protetor solar. Fui em frente, com fé.

Grupo de romeiros diante da igreja Bom Jesus, em Tremembé. Foto / Júlia Duarte/Arquivo pessoal

Sábado caminhei da igreja do Bom Jesus de Tremembé até o Lar São Judas Tadeu, em Pindamonhangaba. Fui das primeiras a chegar, junto com o Carlos Alberto e a Priscila, meus amigos. Ali almocei. Outra delícia de comida. Teve arroz, feijão, carne moída e legumes. De sobremesa, banana.

O sol tinha dado uma trégua e a tarde ficou em nuvens, facilitando chegar em Roseira. O grupo parecia bem cansado. Muitos fazendo a manutenção dos pés. Alguns se queixavam de bolhas. Eu uso Hipoglós nos pés, visto uma meia fina e outra, mais grossa, de algodão. Pra mim funciona bem.

Como eu e meus amigos fomos os primeiros a chegar em Roseira, demos um tempo de quase duas horas até o grupo se juntar. Lá o pessoal dormiu numa escola, para sair no domingo cedo. O objetivo era assistir à missa das 10h na Basílica de Aparecida.

Ufa! Chegamos, finalmente. Foi muito bom. Uma emoção indescritível. Estava muito cansada, mas tinha valido a pena. Viva Nossa Senhora Aparecida!, gritei para o meu íntimo, e fui para a igreja rezar e agradecer.

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Adalberto

Me chamo Adalberto José da Silva, joseense. Faz vinte anos que moro em Miami, nos Estados Unidos, onde sou empresário.

Vim para minha cidade de origem nesta véspera do feriado de Nossa Senhora para ir a Aparecida a pé, pagar uma promessa por uma graça recebida.

Fui com um grupo de amigos, pela via Dutra, numa incrível peregrinação. Saímos na segunda-feira, dia 10, por volta das 14h. O dia estava quente e o céu claro. Foi pôr os pés na Dutra e vi muitos romeiros em fila indiana. Isso me animou bastante e me deu certeza de que eu também poderia chegar lá.

Passei por Caçapava depois de três horas de caminhada. Pelos meus cálculos restam mais de 20. Quero ver se chego amanhã cedo ao destino. Então, sebo nas canelas.

Caminhões, ônibus, carros, romeiros… muitos romeiros. O ar quase falta, o raciocínio fica lento, mas eu não posso parar. Tenho uma dívida com Nossa Senhora Aparecida e preciso pagar. A fumaça dos escapamentos dos veículos é sufocante, mas fazer o quê? Não tenho alternativa a não ser andar.

Adalberto (à dir.) com o amigo Gabriel Balbino: longo caminho pela frente. Foto / Adalberto Silva/Arquivo pessoal

Agora são 19h, a noite caiu e estou na estrada. Venta um pouco. Muita gente caminhando no escuro. Tenho na cabeça uma pequena luz à bateria que ilumina os meus passos. Em todo trajeto deparei com muitos pontos de apoio distribuindo água, suco, lanche. Não comi para não ter vontade de ir ao banheiro, mas agora estou morrendo de fome e não acho nenhum desses grupos. Não quero sair da estrada para não perder o pique. Devo caminhar ainda umas 12 ou 13 horas. Estou exausto, mas não posso desanimar.

Passa um pouco das 6h, o sol já ilumina o meu rosto e posso ver ao longe a torre da basílica. Meu destino é ali, pensei, com os olhos marejados. Um momento de muita emoção, que só quem professa a fé católica e faz um trajeto como esse, a pé, pode desfrutar.

Tive muitas dificuldades, mas sabia que não seria fácil. Com perseverança e fé, venci. Agora, é curtir um pouco a companhia de Nossa Senhora Aparecida. Minha promessa está cumprida.

 

> Carlos José Bueno é jornalista profissional (MTb nº 12.537). Aposentado e no ócio, brinca. Com os netos e as palavras.

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