Ilustração / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Caí na besteira, anos atrás, de fazer gracejo com respeito à situação da mulher no casamento. Fiz por piada, sem graça, admito. Dizia, entre familiares, que eu é que mandava no meu casamento, porque havia casado em 1969, na ocasião o Código Civil anterior ainda consignava que o marido era o cabeça do casal. Portanto, fazendo pilhéria, eu arreliava minha mulher afirmando que a lei ainda me dava o direito de mandar.

É claro que, juridicamente, não fosse mera anedota, não se sustentaria de qualquer maneira. A Lei do Divórcio, de 1977, veio acabar com isso, igualando homem e mulher no casamento, sendo norma de ordem pública, a aplicar-se a todos os matrimônios.

Como caiu a situação de que a mulher se tornava relativamente incapaz depois do casamento. Não faz tanto tempo assim, perdurou até o ano de 1962, com o Estatuto da Mulher Casada libertando a mulher do homem aqui no Brasil. Acreditem: até para trabalhar a bendita precisava de autorização expressa do marido. Hoje, isso é até incompreensível, pois o maridão de décadas para cá quer mais é que a mulher trabalhe: tanto fora como no lar. A famosa jornada dupla.

Fiz deboche, mas não escapei da braveza da tia Filoca:

− Olha aqui Zezinho, você vem com essa gracinha sobre as mulheres. Mas não me engana, não, maganão! A sua mulher eu sei que não abaixa a cabeça, nenhuma mulher pode se sujeitar à vontade arbitrária do homem, tem de conversar. Fosse comigo, dava é um pescoção no bruto. Ainda bem que não casei, não tenho estômago!

Respondi, na ocasião:

− Calma, tia, foi apenas brincadeira, você sabe que eu não imponho nada, vou decidindo as coisas maiores, mas dei sempre o direito de veto à minha mulher, se ela discordar, não faço.

A tia resmungou, porém, concordou.

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A reação furiosa da tia tem lá sua razão, descontado o exagero. Não se concebe mais a mulher ser submetida ao homem, devendo lutar por melhores oportunidades de trabalho, na política, nas empresas, nas áreas ainda de grande predominância masculina.

Mesmo assim, depois do movimento feminista –com exageros e tudo–, cerca de 86% das mulheres ainda hoje, segundo o IBGE, continuam com a tal jornada dupla. Só 3% dos cargos de direção em empresas são ocupados por mulheres, quando se sabe que são elas que mais se formam em curso superior e constituem a maioria da população. A participação na política ainda é inexpressiva.

Absurdo dos absurdos, mesmo, é a mentalidade de grande parte dos homens brasileiros, para os quais a mulher lhe pertence, como se coisa fosse. Daí os chocantes feminicídios. É questão cultural, de educação, precisa educar melhor o povo.

Se não, deixo por conta da ranzinza tia Filoca:

− Tem muito homem valente quando está diante de mulher, sabendo de sua força física. Quero ver é o machão encarar alguém de seu tamanho! Só de pensar tenho vontade de esganar esses covardes. Mexa comigo.

Está bom, tia, sem violência, viva as mulheres do mundo todo!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60. 

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