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Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Posso estar hoje, aqui nesta coluna, cometendo a maior das inconfidências da minha vida. Me arriscando a desmoronar uma razoável reputação que penso ter. Mas, depois de aposentada, passei a não desejar, tanto pessoalmente quanto profissionalmente, mais nada a não ser fazer coisas que me deem prazer, que me divirtam.

Pois bem, aí vai a confissão: estou assistindo Big Brother Brasil! Dito isso, estou aqui, encolhida na minha cadeira em frente ao computador, protegendo meu corpo com os braços, aguardando as pedradas dos colegas jornalistas, a condenação dos amigos intelectuais e a fogueira que será acesa pelos que condenam com veemência a rede de TV que transforma o país em uma aldeia global.

Como foi que cheguei a esse patamar mais absurdo da degradação intelectual? Alguns podem dizer que não há explicação, mas desde que comecei a assistir ao programa, acreditava que meu comportamento errático se dava porque era a única forma de ter assunto com minha mãe e minha filha.

Sem informações a respeito do BBB, pareço viver em outro planeta. Como não sabe quem é Juliette? Como não ouviu falar na Viih Tube? Não sabe quem foi pro paredão?

O programa já estava pela metade quando comecei a acompanhá-lo, ou seja, peguei o bonde andando, mas claro, sem nenhuma dificuldade, a não ser aquelas de quem é principiante no jogo: não sei qual é a do anjo, nem o que faz o líder, muito menos quando ocorrem os famosos paredões. Mas aprendi fácil, nem podia ser diferente.

Voltando à minha justificativa. Com um pouco mais de reflexão, entendi que ter assunto com mãe e filha não era exatamente o que explica que toda noite eu acompanhe o reality show. E é aqui que volto ao tema recorrente de minhas crônicas: a quarentena.

Não que o isolamento esteja me provocando demência. Até pode ser, mas acho que não. Na verdade, o que me atrai são as pessoas. É bonito ver gente. Gosto de gente, da diversidade de pensamentos, de raças, de comportamentos. Em isolamento, estava sem tudo isso!

Então, deixo o BBB reservado na TV e fico esperando. Caindo de sono, mas esperando. É começar e eu fico ligada, acompanhando as conversas fiadas, as competições “merchan”, os chororôs dos mais sensíveis, os pitis dos mimadões, as sacanagens sob os edredons, as cachorradas deliciosas, as tretas sem fim.

Pois é! O isolamento faz isso. Faz a gente querer ver gente interagindo, mostrando que apesar de tudo o que o mundo, em especial o Brasil, está passando, as pessoas continuam as mesmas. E é essa mesmice das pessoas que está nos faltando agora.

 

> Márcia Regina de Paula é jornalista (MTb nº 20.450/SP) há 37 anos. Mora em Caraguatatuba há quatro anos, depois de ter vivido por 28 anos em São José dos Campos.