Evento reúne cerca de 1.300 movimentos sociais em Belém, que apontam poucos resultados práticos das COPs e querem ter voz nos debates sobre o clima
DA REDAÇÃO*
A Cúpula dos Povos foi aberta oficialmente na quarta-feira (12) com discursos criticando a ausência de maior participação popular na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) e, ainda, em defesa da Palestina. Para as organizações e movimentos presentes na Cúpula, países e tomadores de decisão têm se omitido ou apresentado soluções ineficientes, colocando em risco a meta de 1,5°C do Acordo de Paris.
O evento reúne cerca de 1.300 movimentos sociais, redes e organizações populares de todo o mundo e se estenderá até o dia 16, na Universidade Federal do Pará, às margens do Rio Guamá, em Belém (PA).
“Decidimos há mais de dois anos, quando tivemos notícias de que a COP30 aconteceria aqui no nosso país e, mais especificamente, aqui no estado do Pará, dizer que, diante dos desafios que estavam postos pela COP, nós deveríamos construir um dos maiores levantes da classe trabalhadora do nosso país, mobilizando a classe trabalhadora do mundo”, disse Ayala Ferreira, uma das integrantes da comissão organizadora da Cúpula e integrante do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais sem Terra (MST).

Críticas às COPs
A expectativa é que mais de 30 mil pessoas passem pela Cúpula, construída como uma resposta concreta dos povos ao que chamam de inércia e falta de compromisso da COP. Na avaliação das lideranças da Cúpula, apesar de alcançar sua trigésima edição, a COP tem mostrado poucos resultados práticos e, além disso, tem deixado as populações à margem das decisões tomadas.
“A gente também foi mobilizando outros aliados, de outras nacionalidades, na universidade, nos outros movimentos e fomos ampliando e criando um movimento com mais de 1.300 representações do mundo inteiro. Hoje nós nos orgulhamos muito disso. A Cúpula dos Povos de 2025 é a cúpula dos povos do campo popular para enfrentar e constranger, em alguns momentos, a COP 30. Ela é feita por muitas mãos e muitas vozes de homens e mulheres do mundo inteiro”, reiterou Ayala durante o ato de abertura.
Antes da abertura, centenas de pessoas desfilaram com bandeiras em defesa das águas, contra a exploração das mineradoras e os combustíveis fósseis. Bandeiras de movimentos ribeirinhos, sem-terra, quilombolas, de quebradeiras de coco, atingidos por barragens, de pessoas com deficiência e mulheres percorreram os espaços da universidade mostrando a diversidade de participações. Bandeiras palestinas também tremulavam por todos os cantos, ecoando gritos de “Palestina livre”.
Ao longo da programação, estão previstos debates sobre territórios e soberania alimentar, reparação histórica e racismo ambiental, transição energética justa, enfrentamento ao extrativismo fóssil, governança participativa, democracia e internacionalismo dos povos, cidades justas e periferias vivas, e feminismo popular e resistências das mulheres.
A ideia, segundo os organizadores é “fortalecer a construção popular e convergir pautas de unidade das agendas socioambiental, antipatriarcal, anticapitalista, anticolonialista, antirracista e de direitos, respeitando suas diversidades e especificidades, unidos por um futuro de bem-viver”, conforme previsto no manifesto da Cúpula dos Povos, outro ato de resistência climática lançado pelo movimento.

Soluções ineficientes
Um dos pontos de destaque da Cúpula, a partir dos temas debatidos, é a constatação de que os países tomadores de decisão têm se omitido ou apresentado soluções ineficientes para enfrentar a crise climática. Eles apontam, que o clima extremo, as secas, as cheias, os deslizamentos de terras e as “falsas soluções climáticas” acabam aprofundando a desigualdade e as injustiças ambientais e climáticas, principalmente nos territórios e atingindo as populações mais vulneráveis.
Além dos debates, haverá ainda uma programação cultural que inclui Feira dos Povos, Casa das Sabedorias Ancestrais e apresentações de artistas e grupos populares da Amazônia e de outras regiões do Brasil.
*Com informações da Agência Brasil.


Organizadores dizem que cerca de 1.300 movimentos sociais estão representados na Cúpula. Foto / Tânia Rêgo/Agência Brasil 
