Na região do Jardim Maringá e Vila Ema, o nome Val é lembrado sempre que um cão ou gato precisa de cuidados; há cinco anos, mais de 500 animais já passaram por suas mãos
WAGNER MATHEUS
Em uma época em que a causa animal está tão em alta, as cuidadoras e cuidadores de cães e gatos quase não têm tempo para respirar. Este é o caso de Valdirene Moroti, a Val, cujo contato está em muitas agendas de gente da cidade inteira, principalmente dos bairros do Centro expandido.
Val nasceu e sempre viveu na rua Santa Margarida, no Jardim Santa Madalena, um conjunto de ruas dentro do Jardim Maringá. Depois de exercer a profissão de fotógrafa de eventos sociais durante cerca de 30 anos, uma queda em casa e outros acontecimentos mudaram a sua vida.
“Sofri o acidente em 2019 e fiquei seis meses com pouca mobilidade, sem as caminhadas habituais que fazia com meus dois cachorros”, conta. “O pior é que, em janeiro de 2020, a minha golden [retriever] morreu de velhice e, em fevereiro, perdi a minha bernese [mountain], depois de uma cirurgia de emergência provocada pelo rompimento de um tumor no baço que aconteceu de repente.”
A cirurgia da bernese foi orçada em 6 mil reais e ela não tinha aquele valor. Foi aí que começou a nascer a Val Cuidadora, hoje famosa na região. Ela começou a fazer contato com amigos e, em duas horas, conseguiu arrecadar o dinheiro para a cirurgia. “Pena que ela morreu”, lamenta, a ponto de deixar cair algumas lágrimas.
A partir daí, deprimida pelo tempo de recuperação de seu acidente e pela perda dos seus animais de estimação, Valdirene, que se define como muito religiosa, diz que orava a Deus pedindo o que Ele queria dela. “Quando percebi que muita gente precisava de ajuda com seus pets, como eu precisei com a minha bernese, descobri o que Deus queria de mim e passei a me dedicar aos cuidados com os animais”, conclui.
Ela lembra que, desde criança, gostava de bichos e que deve ter herdado esse amor de seu pai, que gostava tanto de animais que comprou um casal de pastores alemães para cuidarem dela quando ainda era bebê. “Ele também era um cuidador”, observa.

Estreia como cuidadora
Um mês depois de perder sua segunda pet, em março de 2020, surgiu o primeiro caso que viria a transformar a vida de Val. Uma pessoa fez contato pelas redes sociais pedindo ajuda para um filhote SRD (sem raça definida), dando a ele um lar solidário até que se encontrasse um adotante.
Val aceitou receber o cãozinho vira-latas, mas não imaginava o que viria pela frente. O filhote de três meses, parte de uma ninhada resgatada no distrito de São Francisco Xavier, na região norte, apresentou muitos problemas: tomou uma picada de aranha que o deixou com apenas um dedo na pata direita, contraiu dois tipos de doenças de carrapatos, teve pneumonia, passou por transfusão de sangue e, o mais grave, conseguiu sobreviver a uma cinomose, doença com alto índice de mortalidade entre os cães.
Depois de vencer tantos obstáculos sob os cuidados de Val, o cãozinho conseguiu a adoção da cuidadora, sob o nome de Bartô. Cheio de energia, ele retribui com alegria os cuidados que recebe de Val e de sua família.
Mais de 500 atendimentos
Neste ano, Valdirene completa cinco anos de sua missão como cuidadora. Ela acredita que, nesse período, mais de 500 animais já passaram pelas suas mãos. Atualmente, 30 cães estão sob seus cuidados, abrigados em ONGs parceiras instaladas em bairros periféricos da cidade nas quais ela atua como voluntária.
O trabalho realizado por Val consiste em ajudar no resgate, no tratamento veterinário, na compra de ração e medicação, na hospedagem em lares temporários e, no final, na adoção.
Val relata que todo pedido de ajuda que chega até ela é avaliado. “Nem sempre podemos ajudar, mas quando isso não é possível orientamos as pessoas”, explica. Ela lamenta a falta de apoio do poder público e diz que o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da Prefeitura, protetores e ONGs não conversam.
“A Prefeitura poderia fazer uma grande campanha de conscientização para ampliar a castração de animais, principalmente nos bairros mais distantes, como faz com relação à dengue e outros problemas de saúde pública. Sem conscientização, as cerca de mil castrações que o CCZ faz por mês não resolvem o problema, é como tentar enxugar gelo”, critica.

Rifas e eventos
Para conseguir cobrir os altos custos com todos os cuidados com os pets que chegam até ela, Valdirene criou grupos formados por familiares, amigos e simpatizantes da causa animal. Complementando esses grupos, ela busca madrinhas que acolhem animais individualmente.
O dinheiro para as despesas é obtido principalmente através de rifas e eventos. Neste sábado (5), por exemplo, ela e seus parceiros irão realizar um café da manhã, das 8h às 14h, na rua Santa Margarida, 171, com venda de bolos, sobremesas e outros produtos, para consumo no local e também para levar. Alguns animais estarão no local para quem quiser fazer uma adoção.
Serviço
– O quê? – Val Cuidadora
– Como? – Contatos pelo WhatsApp 12 99773-0759
APOIO / SUPERBAIRRO