Foto / Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Forte e delicada, guerreira e romântica, esposa e mãe, namorada e amante, corajosa e sensível, dona de casa habilidosa, profissional competente. Os adjetivos bajuladores se repetem em procissão nas mensagens que recebemos dia 8 de março, Dia da Mulher.

Mas não é fácil nem glamouroso pra ninguém cuidar de uma casa, amar um companheiro, educar os filhos, atender pais idosos, levar pets ao veterinário, estudar e muito mais. Tudo isso sem direito a ficar descabelada, quebrar as unhas ou deixar escorrer o make e, de preferência, equilibrada em saltos 15, para deixar o andar sensual com as cadeiras ondulantes.

Embaladas pelo prazer momentâneo de nos sentir uma deusa, com tantos poderes, essas mensagens ufanistas são trocadas entre nós inclusive. De mulher pra mulher. Tudo isso foi dito tantas vezes que acreditamos.

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Graças aos céus, mesmo ainda pequeno, um coro já começa a dizer que está errado. Essa voz coletiva afirmando que somos perfeitas e capazes de carregar o mundo nas costas é fake e deve ser combatida.

Para tentar se encaixar em todas as qualidades elencadas lá no primeiro parágrafo, as mulheres acabam exaustas e, por motivos ainda em estudo, mas com o estresse entre eles, são as vítimas preferidas da depressão.

Como não ficar maluca desempenhando tantos personagens ao longo de um mesmo dia?

Como não ficar frustrada trabalhando dia e noite para cumprir tantas expectativas sociais impostas culturalmente?

Somos de carne, osso e sentimentos. Nos reduzir a máquinas poderosas de serviço doméstico e deusas do sexo é desumano, para dizer o mínimo.

Se a luta das mulheres já foi por salários iguais aos homens (não chegamos lá ainda), direito ao voto e acesso a determinados postos de trabalho, hoje inclui, principalmente, o combate ao machismo, violência e misoginia.

O episódio dos áudios da visita de guerra vazados, há poucos dias, é um bom exemplo da importância dessas bandeiras. Pois o autor dos áudios, hoje no centro da praça de acusações, nunca esteve nem está sozinho. Ele tem muitos pares.

Então, para homenagear, hoje e qualquer dia, não dê apenas flores. Ofereça respeito e reconhecimento pela pessoa que a mulher em sua vida é. Ela é imperfeita, humana e segue pela vida em busca de espaço e abraço, assim como qualquer outro ser.

A essa altura da existência humana, penso que é essencial que a mulher encare a busca de se recuperar do vício de ser “super” um dia de cada vez. Por isso, proponho como reflexão a frase da maravilhosa Simone de Beauvoir: “Que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância. Já que viver é ser livre”.

E aí, #tamujunto?

 

> Maria D’Arc é jornalista (MTb nº 23.310) há 28 anos, pós-graduada em Comunicação Empresarial. Mora na região sudeste de São José dos Campos. É autora do blog recortesurbanos.com.br.

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