Sei muito bem que o melhor que se tem a fazer nesse triste episódio da exclusão da escritora e jornalista Milly Lacombe da Flim, a Festa Literomusical promovida –e adiada– pela Afac, gestora do Parque Vicentina Aranha, é superar a crise e tentar retomar a vida normal.
Mas vida de jornalista é complicada. Ao mesmo tempo que deseja o fim da crise, não tem como deixar de tocar no assunto. Até porque a crise traz ensinamentos que podem ser valiosos para muita gente.
Talvez o maior ensinamento caiba ao prefeito Anderson Farias (PSD). Longe deste colunista a intenção de dar conselho ao prefeito –se conselho fosse bom não se dava, vendia-se, lembram disso?–, por isso é importante que Anderson tome as linhas abaixo como uma tentativa de análise de caso.
A pergunta que não quer calar é a seguinte: Pelo que vale a pena brigar? No caso do prefeito de uma das cidades mais importantes do Brasil, com muitas responsabilidades, certamente não vale a pena brigar por ideologia. Isso, para um prefeito, deve ser reservado aos palanques, presenciais ou eletrônicos, das campanhas eleitorais.
Diferentemente de um vereador, deputado estadual, federal ou senador, o prefeito ocupa o cargo máximo no Poder Executivo, é o que realiza, o que faz coisas, enquanto os donos de mandato parlamentar discutem coisas, debatem ideias. Logo após vencer a eleição, um prefeito se torna o responsável por 100% da população, seja ela de centro, de direita ou de esquerda; seja ela heterossexual ou homossexual; seja ela intelectual ou analfabeta. Certo?
A coluna Política & Políticos tem abordado frequentemente a questão dos sinais que os políticos emitem para agradar aos seus eleitores. É exatamente o que Anderson Farias fez, imitando o exemplo do seu padrinho político, o hoje vice-governador Felicio Ramuth (PSD), que vem provocando o petismo e o presidente Lula.
No entanto, infelizmente para o prefeito, o tiro saiu pela culatra. Ele tentou cancelar e acabou cancelado, em escala nacional; tentou jogar para a torcida e conseguiu insuflar uma torcida oposicionista que estava devagar, quase parando. Para quê?
Depois do leite derramado é fácil dizer o que cada um faria no episódio, mas vai aí uma contribuição ao nosso prefeito.
– Quando descobriu a situação da convidada Milly Lacombe, deveria ficar na dele. O mais provável é que tanto Milly quanto o seu colega de mesa Xico Sá fariam uma participação tranquila e tudo acabasse bem.
– Se não fizessem um bom papel, o prefeito poderia criticar o conteúdo entregue pelos convidados e ainda passar por democrata ao não vetar os convites.
– Deveria alinhar com a Afac –que deve ter independência– o cuidado a ser tomado com a contaminação da cultura por discursos radicais. E a Afac simplesmente não convidaria mais pessoas com esse perfil. É um direito da Afac e da Prefeitura. Mas, após convidados, os participantes devem ser respeitados.
– Ao mesmo tempo, o prefeito quis tomar só para si o “mérito” do cancelamento, quando um outro grupo de direita, o do PL, que lhe faz oposição, foi quem mais atirou, se não foi quem primeiro atirou.
Que pelo menos fique uma lição do episódio à classe política local. Em crises como esta, todos perdem, apesar de parecer que alguns ganham. A classe política perde.
Quanto ao nosso prefeito, é bom que se diga que tem sido um administrador dedicado, eficiente, com um fôlego pouco visto em outros que ocuparam a cadeira em São José, talvez só comparável ao padrinho Felicio. Que faça o que a população espera, que seja o governante de 100% dos joseenses, como tem feito desde que assumiu.
Ah, e que fique claro que o SuperBairro é um portal nanico, mas não abre mão de praticar jornalismo independente, porém responsável. Nunca faltou e nunca faltará espaço ao prefeito Anderson e à Administração para expor suas posições, mesmo que eventualmente contrariem a abordagem do portal.
Que o prefeito Anderson brigue pelo que for melhor para a cidade e o seu povo. Por isso, sim, vale a pena brigar.

RADAR

Gasolina na crise
O vereador Carlos Abranches (Cidadania) assustou ao dar sua “contribuição” para conter a crise instalada na Flim. Ele sugeriu em vídeo nas redes sociais que o prefeito promova um inusitado “debate” entre a excluída Milly Lacombe e alguém que pense diferente dela. A adoção da ideia seria algo como combater um incêndio com um galão de gasolina. Haja fogo!
Clique [aqui] e veja o vídeo.
Povo na rua
Mesmo sem Flim, adiada ou cancelada até não se sabe quando, um mix de ativistas culturais e políticos da cidade se viu convocado para a frente do Parque Vicentina Aranha na noite de sexta-feira (19), quando deveria estar ocorrendo a abertura da Festa. Felizmente tudo acabou bem.

Povo na rua (2)
Pelo menos para uma finalidade serviu a tentativa de garantir a impunidade de deputados e senadores, além da anistia aos condenados do 8 de Janeiro: a oposição acordou. No domingo (21), foram registradas manifestações com bom público em 23 capitais do país.
Ao que parece, ainda existe uma chance de a PEC da Blindagem ser pulverizada no próprio ninho em que foi formulada, o Poder Legislativo. O relator da matéria no Senado adiantou que a Casa irá rejeitar a gatunagem. É esperar e torcer.
Clique [aqui] e veja as manifestações em algumas capitais no vídeo da ativista carioca Elika Takimoto postado em seu Facebook.

Povo na rua (3)
Em São Paulo, até o sumido Carlinhos Almeida, ex-prefeito petista de São José, marcou presença na avenida Paulista com a companheira vereadora Amélia Naomi. Mostraram discurso afiado.
Clique [aqui] e veja o vídeo.

Uma no cravo…
A semana do vereador Anderson Senna (PL) teve altos e baixos. O baixo foi tentar tirar proveito da crise na Flim para emplacar um representante da Câmara na Afac, a Associação de Fomento à Arte e Cultura, que gere o Parque Vicentina Aranha. Puro oportunismo. O apetite do Legislativo só faria mal à entidade.
…outra na ferradura
Mais feliz foi a iniciativa de Senna de incluir no calendário oficial do município o Vale Rodeio Show. O evento está retornando à cidade, começou nesse fim de semana e termina no próximo. O vereador comemorou a aprovação do projeto em plenário, na quinta-feira (18), com direito a pose de Rei do Gado. Segura, peão!

Vai ser bom, não foi?
No final, a discussão e votação dos projetos da PGV (IPTU), ITBI e taxas do lixo e de iluminação e segurança, que tinha 45 dias garantidos para discussão na Câmara, acabou em uma espécie de ejaculação precoce. Foram aprovados na mesma sessão em que entraram na pauta do Legislativo. Com o agravante de 41 emendas rejeitadas das 43 apresentadas.

TOQUE FINAL
Falando em PEC da Blindagem e anistia…


