Imagem / Facebook/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

O joseense tem orgulho quando vê o aparato de segurança de que a cidade dispõe. A estrutura começa com a Polícia Militar e a Guarda Civil Municipal (GCM) superaparelhadas. Não falta pessoal bem treinado, equipado com todo tipo de armamento –até fuzis os caras têm–, uma frota de viaturas de fazer inveja, até helicóptero Águia patrulha os ares.

Não vamos nos esquecer, é claro, de que São José dos Campos se gaba de ser a cidade das câmeras de monitoramento –devem ser mais de mil–, todas integradas no cinematográfico CSI (Centro de Segurança e Inteligência). Repetindo: coisa de cinema.

Essa megaestrutura tem produzido resultados muito positivos, principalmente contra os crimes de roubo e furto de veículos e de captura de gente procurada pela Justiça devido ao cometimento de crimes. Até aí, palmas para a nossa segurança.

Mas tem um porém, sempre tem um porém. Nesta mesma cidade em que parece que nada escapa aos olhos da lei, tem gente fazendo sexo ao ar livre. Não que sexo seja uma coisa a ser combatida, façam à vontade. Mas não nas ruas, nas avenidas, nas praças, para todo mundo ver.

Para quem ainda não sabe, esta prática é conhecida como dogging. Segundo o amigo Google, a definição desse negócio é a seguinte:

“Dogging é uma prática de sexo consentido, que geralmente consiste em um ato (semi)público de sexo. É um misto de voyeurismo e exibicionismo, e se baseia no prazer do sexo alcançado com mais intensidade devido ao fato de desconhecidos estarem olhando tudo de muito perto.”

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Pegou a visão? É o prazer de fazer para ser visto. Ou seja, o tempo de “brincar no matinho” já não basta. É preciso correr perigo. E o número de adeptos disso que uma velha tia mineira chamaria de “descaramento” é maior a cada dia, principalmente nas grandes cidades.

O problema é que o dogging não é só prazer, é crime também. Segundo o artigo 233 do Código Penal, fazer sexo em lugar aberto ou exposto ao público é crime é chamado de ato obsceno, no capítulo que trata do ultraje público ao pudor. A pena prevista para a condenação por ato obsceno é de detenção de três meses a um ano ou multa.

Porém –e vai aí um outro porém– essa transgressão à lei é classificada como um crime de menor potencial ofensivo. Ou seja, dificilmente alguém vai pegar cadeia por praticar dogging. Pode, no máximo, pagar algumas cestas básicas ou ter que prestar algum serviço à comunidade. Quer dizer, é uma lei que não intimida ninguém e que, talvez até por isso, não motive as nossas famosas “forças de segurança” a esquentar a cabeça com elas.

No entanto, existe um bairro da nossa bem protegida cidade que parece ter sido eleito como a Disneylândia dos dogginistas. Ou seria uma Dogginglândia? Trata-se do Urbanova, lugar de gente chique, lugar de família.

Ontem, dia 3 de junho, as redes sociais locais foram aos poucos sendo inundadas por imagens de um casal fazendo sexo em plena avenida Shishima Hifumi. Primeiro, um sexo oral e depois uma rapidinha, apoiados em um veículo estacionado na avenida. Foi uma performance pública, conforme deu para perceber pelas imagens e vozes de pessoas próximas.

A bem da verdade, cabe aqui um comentário. Que casal mais desajeitado e fora de forma física para fazer sexo… Foram cenas de muito mau gosto. Portanto, se você é chegado a um voyeurismo e gostaria de assistir a uma apresentação de dogging, escolha melhor os “artistas”.

APOIO / SUPERBAIRRO

Brincadeiras à parte, o problema é sério, bastante sério. O espaço público é, como o próprio nome diz, para uso público. É onde circulam famílias inteiras, idosos, crianças, gente que não pode ser atacada por atos imorais, obscenos e constrangedores.

Voltando um pouco na memória, me recordo de que, há alguns anos, um local do Urbanova era especialmente procurado para o dogging, com direito a consumo de drogas e perturbação do sossego. Era a rua Pássaro Preto, dentro de um dos novos condomínios do bairro, onde ainda não havia construções. O pessoal levava até cadeirinha de praia para curtir as atrações, além de uma bonita vista do Urbanova, pois fica no alto de uma colina.

As nossas “forças policiais” levaram anos para conseguir livrar os moradores locais daquele tormento que ocorria principalmente nos finais de semana. Ao que parece, venceram a guerra. Confesso que não sei como isso aconteceu. Vou sugerir aos repórteres do SuperBairro que corram atrás dessa informação.

Agora, senhores fardados, armados e motorizados que cuidam da nossa segurança, chegou a hora de mostrar a esse pessoal do dogging que São José não é terra de ninguém. Mostrar que temos uma estrutura invejável de segurança pública. E que essa estrutura está preparada –e motivada– para combater desde um assalto ao Banco do Brasil até uma “bimbadinha” na Shishima Hifumi.

A propósito, nesta quinta-feira, dia 5, às 10h, vai acontecer mais uma reunião do São José Unida. Para quem não sabe, esse grupo foi criado em 2017 e, desde então, reúne todas as instituições ligadas à segurança pública para definir ações integradas para combater a criminalidade.

Fica a sugestão ao nosso prefeito Anderson Farias, que é uma espécie de comandante dessas forças armadas:

– Prefeito, que tal incluir na pauta desta reunião a p*taria em que estão transformando alguns locais da nossa pacata e ordeira São José dos Campos?

A palavra de ordem aos dogginistas deve ser a seguinte: “Lugar de sexo é entre quatro paredes, seus descarados!”

 

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 49 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 24 anos.