Foto / Gov.br/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Sempre imaginei que a vida moderna só traria benefícios ao mundo e, nele incluído, ao Brasil. O uso de tecnologia de ponta nas mais diversas áreas são a parte boa do pacote. Mas, junto com as conquistas desta modernidade, tem vindo muita coisa que não presta.

Explico por meio de um exemplo. Nosso precioso dinheirinho nunca esteve tão perto da bandidagem. Se antes éramos obrigados a ir ao banco, presencialmente, para receber, pagar, pedir empréstimos, tudo olho no olho com o gerente e seus funcionários, agora temos a facilidade de fazer tudo e mais um pouco usando um simples cartão e uma simples senha. Bom demais para ser verdade, não é?

O problema é que toda essa facilidade proporcionada pela tecnologia para os cidadãos de bem também chegou para os golpistas. Como assim? Explico também. Neste exato momento você pode ter, sei lá, 50 mil reais na conta bancária e daqui a 10 minutos não ter mais nada. Os pilantras sabem como tomar a sua grana.

A cada dia que passa os golpes se tornam mais sofisticados. Um dos mais recentes é o golpista tirando uma foto sua com uma desculpa qualquer, mas com o único objetivo de fazer o seu cadastramento facial para tomar o que você tem.

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Não vejo mais televisão, mas, para meu azar, parte do conteúdo que ela exibe chega até mim pelas fatídicas redes sociais. A coisa ficou banalizada a tal ponto que um bandidinho que nem barba na cara ainda tinha explicou recentemente em uma reportagem jornalística todo o passo a passo de como abrir uma conta bancária no seu nome, com seus dados verdadeiros, tudo certinho, e passar a fazer empréstimos bancários e compras no comércio como se fosse você. O gatuninho parecia ter orgulho de divulgar a sua técnica.

E por aí vai a bandalheira. É claro que a população idosa, já uma vítima preferencial dos golpes que relatei acima, não poderia deixar de ter as suas aposentadorias e pensões livres dos criminosos. A ponta do iceberg de um roubo calculado em quase 7 bilhões de reais apareceu há alguns dias e não para de mostrar o quanto o crime compensa no Brasil.

Era fácil. Por um lado, as vítimas recebem seu dinheirinho do INSS todo mês, religiosamente, na conta bancária. Mas, por outro lado, associações de aposentados – muitas delas criadas com a desculpa de defender os interesses dos velhinhos e velhinhas– beliscam uma parte do dinheiro sem autorização de ninguém como se fosse uma contribuição mensal.

E o governo –não interessa se o de Lula, o de Bolsonaro, o do Temer, o da Dilma etc.–, qualquer governo faz cara de espanto quando esse tipo de escândalo chega à população. Depois disso, muda para uma carinha de indignação, coloca a culpa no adversário mais próximo e promete punir os culpados com rigor.

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Mas a bandidagem está sempre um passo à frente. Ainda no caso dos aposentados, a maioria, principalmente os mais recentes, é exposta diariamente a ligações de celular maliciosas contendo ofertas e propostas que podem arruinar suas vidas.

Eu mesmo, aposentado há cerca de dois anos pelo INSS, recebo em média 15 a 20 ligações diárias –não estou exagerando– de gente se identificando como correspondente bancário para me oferecer empréstimos consignados ou, pior ainda, empréstimos sobre empréstimos, até que o meu limite para obter empréstimos seja estourado.

O pior de tudo é que esse pessoal se identifica como representante dos maiores bancos do país. E é. É gente que tem acesso a todos os seus dados no INSS, coisa que só você deveria ter. E como eles têm esse acesso? Ao que parece, bandidos conseguem os dados de milhões de aposentados e depois negociam esses dados com quem quiser pagar por eles.

O governo, sempre correndo quilômetros atrás dos golpistas, orientou as vítimas dessas dezenas de ligações diárias a desligar e bloquear o número. Nada mais inútil. As ligações são feitas por “robôs” que, bloqueados em um número, usam outros e mais outros em uma sequência sem fim.

Então fica assim. A qualquer momento você pode ser surpreendido com um novo golpe, um novo escândalo e novas garantias de que “isto não vai mais acontecer”. É o governo comendo poeira na disputa contra os criminosos tecnológicos.

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Tem solução? Se a Polícia Federal limpar a máquina pública de pilantras que usam seus cargos para se tornarem cúmplices do crime, quem sabe a gente comece a reagir. Também pode-se apelar para algumas soluções mais caseiras.

Uma vez assisti a um filme que contava a história de um dos maiores falsificadores de documentos dos Estados Unidos, principalmente dos obsoletos cheques. Depois de o FBI, tentar durante anos colocar o bandido –era quase um adolescente– atrás das grades, sem sucesso, percebeu-se que a solução do problema era contratar o rapaz como funcionário para tornar os documentos oficiais mais seguros e desvendar os golpes quase ao mesmo tempo que eles eram criados.

É horrível dizer isso, mas quem sabe alguns golpistas –mais?– na folha de pagamento do governo possam tornar o dia a dia da população mais seguro. Se nada for feito, qualquer dia um golpista aparece para almoçar na sua casa.

 

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 49 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 24 anos.