PT entra na crise: Amélia Naomi protesta e grupo marca manifestação na abertura da Flim. Foto / Instagram/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

A Flim 2025 ameaça ruir como um castelo de cartas: depois da exclusão da escritora Milly Lacombe, o jornalista Xico Sá e as quatro curadoras abandonam o evento; oposição prepara manifestação na aberta da festa

 

WAGNER MATHEUS | Editor do SuperBairro

Após a exclusão da escritora e jornalista Milly Lacombe de uma mesa de conversa na abertura da Flim (Festa Literomusical de São José dos Campos), prevista para a próxima sexta-feira (19), a crise se alastrou rapidamente no mesmo dia e ameaça a realização do evento.

Os focos de insatisfação chegam de todos os lados. Primeiro, um dos outros dois convidados para a atividade da qual Milly foi cancelada, o jornalista Xico Sá, informou que não participará da Flim em solidariedade à colega.

“Deixo aqui todo apoio e solidariedade à jornalista Milly Lacombe, censurada e silenciada politicamente (a pedido da extrema-direita) pela Prefeitura de São José dos Campos. Como convidado do mesmo evento cultural, comunico, em protesto, o cancelamento da minha participação”, disse o jornalista Xico Sá.

Pior ainda, as quatro curadoras do evento –Alice Penna e Costa, Tania Rivitti, Bianca Mantovani e Bruna Fernanda– decidiram abandonar a Flim em protesto contra a censura exercida pela Afac (Associação de Fomento à Arte e Cultura), gestora do Parque Vicentina Aranha, por intervenção do prefeito Anderson Farias (PSD).

Em nota, o grupo comunicou: “É com muita indignação e revolta que nós, curadoras da 11ª Festa Lítero Musical (sic) de São José dos Campos – Flim, comunicamos a nossa retirada da curadoria da festa que estava prevista para iniciar nesta sexta-feira, 19 de setembro. Após termos nos dedicado por um ano à pesquisa, à leitura e reuniões com um mergulho no tema ‘Eu sou porque nós somos’, fomos surpreendidas com a censura à presença de uma de nossas convidadas para a mesa de abertura”.

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Manifestação

A instalação definitiva da crise ganhou contornos mais sérios com a mobilização de um grupo, formado por militantes do PT, entre outros descontentes, que está convocando uma manifestação de protesto no parque exatamente às 18h de sexta-feira, horário de abertura da Flim.

Os slogans da convocação são claros: “Ocupar a Flim 2025! Somos todos Milly!”. Uma das integrantes do grupo, que teve seu nome relacionado em um grupo dos manifestantes, é Analú Oliveira, que ocupou o cargo de diretora cultural da Afac durante o governo do ex-prefeito Carlinhos Almeida (PT) e foi candidata a vereadora pelo partido na eleição de 2024.

Convocação para protesto ganha as redes sociais. Imagem / Redes sociais/Reprodução

A convocação coincide com um vídeo postado pela vereadora Amélia Naomi (PT). Além de manifestar seu repúdio pela exclusão de Milly Lacombe da Flim, a vereadora lamenta: “Falam tanto em censura e nós estamos assistindo isso, infelizmente, mais uma vez em São José dos Campos”. Amélia chamou o prefeito Anderson Farias de “fascista e misógino”.

Veja [aqui] o vídeo da vereadora Amélia

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Milly lamenta

Em vídeo de quase 10 minutos de duração, postado em seu Instagram, a escritora explicou na noite de terça-feira a abordagem que fez sobre a característica da família tradicional no podcast “Louva a Deusa”, no mês de julho. “Eu ia para a feira (sic) fazer uma mesa muito linda, o tema era ‘Nós e o outro’, […] mas um trecho de uma entrevista que eu dei para um podcast que eu gosto muito viralizou, ele foi manipulado, tirado de contexto, fizeram um tudo com ele para que esse vídeo servisse à fúria, ao ódio da extrema direita”, disse a escritora na abertura de vídeo.

Milly ainda explicou que, nas redes sociais, produz conteúdos sobre questões de gênero. “Dentro desse guarda-chuva a gente precisa falar de família. Família como lugar de amor e de respeito por todas as dissidências. Luto por um mundo dentro do qual a família seja um lugar sem hierarquias, sem papeis de gênero e sem relações de poder. E por um mundo sem opressão de raça, sem opressão de gênero, sem opressão de sexualidade, sem opressão de classe. Esse mundo é possível, mas temos trabalho pela frente. A todas as pessoas que compartilham desse sonho, um abraço carinhoso”, publicou no texto que acompanhou o vídeo.

Veja [aqui] a íntegra do vídeo de Milly Lacombe

Outro lado

O SuperBairro fez contato na manhã desta quarta-feira com a assessoria da Afac sobre a saída do grupo de curadoras e as repercussões dos últimos acontecimentos na realização do evento. Assim que houver manifestação da Afac, as informações serão acrescentadas e o texto será atualizado.

Perguntas à Afac: 1 – A realização da Flim está garantida? 2 – Sem a curadoria, quem responde pelo evento? 3 – O que haverá na abertura, que teria a mesa da qual Milly Lacombe e Xico Sá estão fora? 4 – Haverá outras mudanças na programação? 5 – Como a Afac encara a possibilidade de manifestação de protesto em frente (ou no?) Parque Vicentina Aranha na sexta-feira a partir das 18h?

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