Finalmente tivemos um julgamento pelo STF nos processos da tentativa de golpe de Estado, desta vez envolvendo os peixes mais graúdos. Até agora, só lambaris do 8 de Janeiro haviam caído nas redes dos pescadores de capa preta do Supremo.
Passados alguns dias, este colunista puxa pela memória para alinhar alguns fatos –ou versões deles– que começam a ser percebidos no panorama da política e da Justiça do país. Vamos a eles.
– O STF quis ser exemplar nas condenações, interrompendo uma tradição histórica de alisar a cabeça dos golpistas, desde o episódio do fim do Império, com a Proclamação da República. Era necessário isto.
– Como tem ocorrido com os processos da tentativa de golpe, a dosimetria tem sido rigorosa demais na fixação das penas. Dar mais de 20 anos de pena para os sete acusados, sendo 27 anos e três meses para Bolsonaro, é excessivo. Talvez os recursos tornem essas penas mais realistas.
– As articulações para uma anistia parecem ser conversa para boi dormir no campo da direita brasileira. Sabendo que as chances de o “mito” recuperar seus direitos políticos rapidamente são escassas, eles jogam para a torcida. Na verdade, brigam por espaço em um cenário sem Bolsonaro.
– Pesquisas, principalmente do Datafolha, mostram que parte dos quase 50 milhões de eleitores de Jair Bolsonaro está deixando o radicalismo para assumir uma posição mais consciente e legalista. Boa notícia. Na população como um todo, 54% são contrários a uma anistia, enquanto 39% são favoráveis.
– Tarcísio de Freitas está em um mato sem cachorro. Desliza de um lado para o outro, de acordo com cada acontecimento. Corre o risco de não agradar aos radicais que está cortejando agora e, ao mesmo tempo, ser preterido por parte dos eleitores de centro e centro-direita. Precisa de conselhos de quem entende mais de política…
É isso. Enquanto o STF deve começar a receber recursos dos advogados dos condenados, a bola deve passar para o Congresso, com as articulações pela anistia de um lado, e contra ela do outro.
Vamos acompanhar…

RADAR
É careca ou não é?

Por falar em STF, bastou o ministro Luiz Fux votar absolvendo Bolsonaro e Cia. para implicarem com o cabelo do homem. Esta coluna não é de beleza, mas a bem da verdade Fux não ganhou do papai do céu a vasta cabeleira que exibe. Em uma entrevista antiga ele reconheceu que recorreu a “implante capilar”. Chame-se do nome que se quiser chamar, até de peruca, porém uma foto antiga do ministro mostra claramente que a manutenção do seu topete deve lhe custar um pouquinho do belo salário mensal.
Vai ser prolixo lá longe…
Ainda sobre Fux, antes que parte do povo brasileiro deixe o sujeito em paz, a “Folha de S.Paulo” teve a pachorra de comparar o volume de letrinhas do voto dele com o de obras consagradas da literatura brasileira e portuguesa e, ainda, com os votos dos demais ministros da primeira turma nos processos. Fica a conclusão de que, pelo menos em termos de eficácia, tamanho de voto não é documento.

Enviando sinais (1)
Entre os políticos locais –e nem tão locais–, os típicos acenos para o eleitorado começaram a surgir logo após a condenação de Bolsonaro. O vice-governador Felício Ramuth (PSD), por exemplo, afirmou em nota que vê espaço para anistia, principalmente após o voto do ministro Fux.
Mas alertou que “o projeto de lei da anistia […] tem que ser técnico-político para que não seja questionado depois, inclusive pelo próprio STF. A resposta tem que ser na mesma moeda. É preciso fazer o texto possível”.
Ramuth também abriu a possibilidade de uma anulação do processo em outro momento: “Já vimos isso acontecer e não faz tanto tempo. A posição de Fux mostra que, eventualmente, em uma nova formação do STF, podemos ter até uma anulação do que está acontecendo”.

Enviando sinais (2)
Em meio a uma entrega de título fundiário e uma visita a obras, até o prefeito Anderson Farias (PSD) resolveu dar pitaco nos últimos acontecimentos. Em nota nas redes, mergulhou bem fundo: “O Brasil não pode ser refém da instrumentalização política do Poder Judiciário”, referindo-se, é óbvio, à condenação do “capitão”.
Em outro trecho, subiu um pouco à superfície para dizer que, apesar de tudo, “é hora de virar a página da perseguição e da briga, e buscar a paz para o nosso país”. Aí falou bonito!

Público x privado
Aqui na coluna Política & Políticos se fala de política, gestão pública e, por que não, até de esporte. O problema é que no último domingo (14), quando a Águia do Vale foi desclassificada da Copa São Paulo com uma derrota por 1 a 0 para o Comercial de Ribeirão Preto, depois de martelar no gol adversário quase o jogo inteiro, um outro problema chamou a atenção de quem viu o jogo: o estado lamentável do gramado do estádio Martins Pereira.
Muita gente ficou em dúvida quanto a quem é responsável atualmente pela conservação do gramado, que estava uma espécie de pasto. Seria a Urbam (pública), ou a São José – SAF (privada)? Perguntando para quem sabe, veio a resposta: a responsável é a SAF do megaempresário Oscar Constantino & parceiros.
Ai da prefeitura se o problema fosse dela, iriam cair matando no prefeito Anderson…

SJC ‘sem’ e ‘com’ o LP
Na abertura de um artigo publicado no SuperBairro no domingo (14), o incansável jornalista, escritor e ex-vereador Luiz Paulo Costa, de 82 anos, deu a notícia: vai deixar a São José onde nasceu –e onde foi um dos mais ativos vereadores por cerca de 20 anos– para morar com o filho na litorânea Caraguatatuba.
O SuperBairro foi rápido no gatilho e conseguiu fazer com que, se Luiz Paulo não será mais visto presencialmente nos locais da cidade que costuma frequentar –principalmente o Mercado Municipal aos sábados e a calçada do Parque Vicentina Aranha aos domingos–, ele continuará a ser lido pelos joseenses. O velho LP, como é conhecido, é o mais novo colunista do portal. Ele vai falar sobre lembranças de fatos importantes e pessoas marcantes na história do município.
Seja bem-vindo, LP!


TOQUE FINAL
Caso de política ou de polícia?

Depois os políticos não querem ver a Justiça se metendo nos assuntos deles. Mas não dá. Veja esta da cidade serrana de Teresópolis, em que o prefeito Leonardo Vasconcellos (União) contratou o seu xará musical Leonardo para um show em uma feira agropecuária na cidade, no próximo dia 21, por nada menos que R$ 800 mil de cachê.
Tudo muito bom se o município não estivesse atravessando uma seríssima crise, com a prefeitura tendo decretado “estado de calamidade financeira”. Teresópolis tem cerca de R$ 700 milhões em dívidas, além de atrasos em salários, verbas rescisórias e repasses a hospitais conveniados ao SUS.
O Ministério Público local não perdeu tempo, acionando a Justiça para conseguir a suspensão do show sem pagamento ao cantor. Enquanto a Justiça não decide, o prefeito cara-de-pau ainda insiste em defender a despesa musical: “Vai ter festa!”, diz.
Justiça nele!
* Texto atualizado às 20h27 do dia 15/9/25 para revisão ortográfica e de estilo.

