Foto / Janela Publicitária/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Até alguns políticos –milagre!– estão preocupados com os estragos que as casas de apostas batizadas de bets estão provocando no bolso e na alma dos brasileiros. O senador Carlos Portinho, do PL do Rio de Janeiro, apresentou no último dia 21 um projeto de lei que limita a publicidade dessa jogatina em eventos e entidades esportivas.

A proposta, segundo o autor, “busca conter os efeitos nocivos do crescimento desregulado do setor, especialmente sobre jovens e pessoas em situação de vulnerabilidade”. Entre outras mudanças na lei, impõe restrições de horário, limita o uso de imagens de atletas e figuras públicas e exige avisos obrigatórios sobre os riscos das apostas. Além disso, proíbe a publicidade de marcas de empresas de apostas em propriedades estáticas, como placas nos estádios esportivos.

A coisa seria mais ou menos como o cigarro passou a ser tratado de alguns anos para cá, com ótimos resultados. Mas o problema é enfrentar a pressão de quem tem interesse econômico no negócio e quer que você esvazie os bolsos nesses jogos de azar.

Um dos grupos contrários à ideia é –pasme!– o dos clubes de futebol, que armaram um chororô argumentando que a aprovação “pode causar um colapso financeiro no ecossistema esportivo, com a estimativa de perda imediata de R$ 1,6 bilhão por ano em receitas”. Ou seja, sem essa grana, como eles poderão pagar salários que podem ultrapassar R$ 2 milhões por mês –é isto que você leu!– para alimentar a nojeira que é o futebol brasileiro atualmente.

Estava previsto que o projeto seria votado nesta quarta-feira (28) na Comissão de Esporte do Senado. Vamos ficar de olho. Tendo algum resultado, eu atualizo com uma notinha no final deste texto.

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O problema das casas de apostas é somente o mais recente dentre os problemas que se acumulam no dia a dia do país. Ele apenas se junta a uma espécie de sociedade em que convivem as atividades legais, as imorais e as reconhecidamente criminosas. Parece que uns se alimentam dos outros e, assim, tornam-se quase imbatíveis.

No grupo das atividades legais, pode-se citar as próprias bets –algumas, porque outras não têm autorização para operar–, o futebol, que se equilibra entre escândalos e poses de inocentes, e as próprias loterias oficiais administradas pela Caixa, onde o governo fatura fortunas.

As atividades imorais também pegam carona nesses tempos bicudos em que vivemos. Uma delas é a profissão mais antiga do mundo, que tem tido até o seu nome alterado como uma espécie de “marketing de normalização”. Hoje, p*ta passou a ser conhecida como “garota do job”. São os profissionais do sexo, onde se reúnem mulheres, homens e outros gêneros. Tem até a p*utaria light, do tipo Only Fans, onde esta gente cobra para saciar as fantasias sexuais da galera.

Toda essa movimentação de fortunas formadas por atividades pouco éticas, não poderia deixar de atrair o pessoal da pesada, o chamado crime organizado. Já virou rotina associar este mundo liberal a siglas como PCC, CV etc. Outro dia mesmo um presidente de um dos maiores clubes de futebol do Brasil teve seu nome associado a encrencas em que o PCC tinha participação.

APOIO / SUPERBAIRRO

Porém, para esta receita asquerosa dar liga, como na preparação de um bolo, é preciso fazer tudo isso chegar às vítimas, ou seja, eu, você e toda a população brasileira. É aí que entram as redes sociais. Nelas, sob o argumento da liberdade de expressão, tudo pode acontecer: golpes, influencers exibindo mansões e carros avaliados em milhões de reais, negócios suspeitos e, é claro, a divulgação das bets, do pessoal dos jobs, da parte podre do fut e mais muita coisa maligna que se esconde em uma tal de deep web.

Do outro lado de tudo isso está a quase totalidade da população brasileira, honesta, sofredora, que precisa de bons empregos, bons exemplos e reconhecimento por viver honestamente. Sei que nada justifica, mas pense como deve ficar a cabeça de um jovem ou uma jovem que acorda cedinho para trabalhar nas Lojas Americanas por algo em torno de R$ 2 mil por mês e, chacoalhando no ônibus, vê no celular Deolanes, Virgínias, Carlinhos, Whinderssons etc. etc. esfregando sua riqueza na cara dele ou dela.

É difícil ver tudo isso e não dizer:

– Trabalhar é coisa de otário, o grande lance é virar milionário…

 

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 49 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 24 anos.