Ilustração / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

“Não existe nada mais antigo / do que caubói que dá cem tiros de uma vez”. O jingle é meio antigo, mas era bem conhecido quando anunciava um programa de desenhos infantis da Globo. A ideia do autor da letra, o multitalentoso Nélson Motta, que depois viria a ser o criador do grupo As Frenéticas, queria dizer que os problemas –no imaginário das crianças e no mundo moderno– já não deveriam ser resolvidos com base na violência e no autoritarismo.

Mas o Nelsinho Motta não sabia que o mundo dos caubóis do tipo John Wayne mostraria sua carantonha feia novamente em pleno século 21. Isto mesmo, o caubói fora de época se chama Donald Trump. O gordão de cabelos esquisitos se parece com aqueles malfeitores que chutavam a porta vai e vem do saloon e arrumavam briga com todo mundo, todo mundo mesmo.

Já pudemos perceber, em relação ao Brasil, à Ucrânia e à Palestina, entre outros, que a estratégia de Trump no comando dos Estados Unidos, conhecidos como a “polícia do mundo”, é atirar primeiro e perguntar depois. Primeiro ele ataca e depois diz que pode até conversar com o inimigo.

É assim que tem acontecido. Trump inventou uma nova forma de diplomacia, baseada na força e não nas leis, na porrada e não no diálogo. Parece que não tem dado muito certo. Afinal, a paz entre Rússia e Ucrânia ainda não aconteceu; o fim do conflito entre Israel e Hamas/Palestina acabou só no papel, pois Israel continua achando que é o senhor da razão e matando à vontade; com o Brasil, depois de atirar um míssil de várias ogivas para nos exterminar, pressões internas do povo americano, sedento em consumir os produtos brasileiros que deixaram de ser acessíveis com o tarifaço, fizeram o gigante falar em trégua e diálogo. Até em “boa química” o pistoleiro Trump falou.

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Agora, o que chama a atenção é a liberdade com que os Estados Unidos passeiam pelos mares próximos aos seus quintais explodindo embarcações, matando seus ocupantes e dando fim ao assunto como se tivesse havido uma investigação, um processo e um julgamento de cada caso. Nada disso. São os “ianques” que decidem quem é narcotraficante, terrorista, agente do mal ou coisas parecidas. Aí eles atiram, destroem, matam e simplesmente comunicam ao mundo o que acabaram de fazer.

Pior do que essa justiça com as próprias mãos foi o “ultimato” de Trump a Nicolás Maduro, ditador da Venezuela. O “justiceiro” Trump simplesmente deu um prazo para o ridículo Maduro deixar seu país junto com a família, sob pena de ser retirado do cargo à força.

Você, leitor, há de concordar que até agora este artigo não defendeu impunidade a agressores, traficantes e déspotas que estão na mira dos Estados Unidos. De modo algum. O que o artigo identificou é o abuso de autoridade e o desconhecimento da diplomacia e das leis que regem –ou deveriam reger– a convivência entre as nações.

Tudo vem acontecendo sem a menor menção à desmoralizada ONU (Organização das Nações Unidas), OEA (Organização dos Estados Americanos) e outros órgãos criados para zelar pela paz mundial. Pelo contrário: os EUA escolhem seus alvos e os eliminam –simples assim.

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Não passa pela sua cabeça, caro leitor, que essas embarcações afundadas, por estarem supostamente levando drogas para o território norte-americano, poderiam não estar transportando nada de ilegal? Que seus ocupantes poderiam não ser criminosos? Mas qual foi o direito de defesa desses alvos? Nenhum.

Em relação ao ditador Maduro, o caso é ainda mais grave. Voltando à metáfora dos velhos filmes de faroeste, o bigodudo tem um prazo para deixar a “cidade” na primeira diligência ou será crivado de balas. Mas o caso Maduro não deveria ser tratado no âmbito da diplomacia internacional, em organizações criadas para isto?

E quem achar que Maduro merece ser retirado do cargo desta forma estará autorizando o caubói Donald Trump –e outros autoritários que zanzam pelo mundo afora– a resolver seus problemas com base na violência e na lei do mais forte.

Destruído Maduro, o mundo ficará ser perguntando: “Quem será o próximo?”

Wagner Matheus. Foto / SuperBairro

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 50 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 24 anos.

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