Foto / Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Num dia deste frio mês de novembro de 2025, li na mídia eletrônica a notícia do falecimento do professor Airton Vilaça, aos noventa e tanto anos, a quem conheci na profícua década de 1960, em São José dos Campos. Ele e a esposa naquela época moravam na Rua Vilaça, depois na Vila Ema, sendo muito queridos.

Aliás, a Rua Vilaça, no Centro, tem esse nome em virtude de um antepassado dele, português que chegou em 1870 na pequenina São José de ruas tortas de terra. Esta então modesta via ganhou esse nome porque era onde o cidadão, sendo veterinário, exercia também o ofício de ferreiro. Ferrava os animais que vinham da roça, como de resto foi contado no site “Resgatando São José dos Campos”. Todos o indicavam: vá à Rua do Vilaça, daí o nome, que ficou.

Já em 1967 encontrei Airton e sua esposa Rita Vilaça, ele no violino, ela no piano, dando aulas de música em sua casa, sendo bastante simpáticos e afáveis. Promoviam audições de música, atuavam em eventos, como casamentos. Foram professores de música de muita gente da cidade. Figuras humanas de valor, marcaram a história de São José.

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Na mesma ocasião, depois de ter tentado, em 1966, viabilizar o Movimento Cultural da Juventude de São José dos Campos, nos moldes da Juventude Musical de São Paulo –eu e amigos do colegial, sob o fundamental incentivo do professor Luiz Gonzaga Guimarães Pinheiro–, acabamos auxiliando na 1ª Semana Cassiano Ricardo (outubro de 1967), feita em homenagem ao grande poeta joseense.

A iniciativa desse evento foi do professor Luiz Gonzaga e do jornalista e poeta Roberto Wagner de Almeida, ambos dando à luz, no ano seguinte, com a ajuda do prefeito seresteiro Elmano Velloso e apoio do próprio Cassiano Ricardo, ao Conselho Municipal de Cultura, nos moldes de outro similar já existente em São Paulo. Extinto em 1970 por um então prefeito nomeado, foi o CMC a primeira iniciativa oficial e organizada na cidade a redundar, depois de percalços, na atual Fundação Cultural Cassiano Ricardo.

Com o poeta Cassiano Ricardo, tive a honra de manter uma conversação simples, marcante para mim, ainda em 1968, ao ensejo da segunda semana em sua homenagem. Foi no interior do prédio anexo à antiga Câmara Municipal, onde de fato ficou abrigada, desde o término da construção na década de 1920, a prestigiada escola normal e depois Instituto de Educação Cel. João Cursino.

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Esse anexo se tornou a Sala Veloso e eu, já concursado para ali trabalhar, fiquei durante algum tempo justamente fazendo sala para o poeta que chegara da Capital. Tarefa um pouco difícil para um jovem estudante do curso clássico.

Da prosaica conversa que mantivemos, lembro-me que o poeta se mostrou muito humilde, tanto que desandou a falar a respeito de certo estranhamento entre ele e os joseenses; estes, na verdade, de maneira injusta faziam restrições à sua pessoa porque achavam que ele não se interessava por São José, sua terra natal, e também por ter feito carreira nacional em São Paulo, indiferente a ela. Mas estavam muito enganados.

Segundo contou o poeta, sempre vinha à cidade e visitava o cemitério; tinha um tio chamado também Cassiano Ricardo, num túmulo logo na entrada do Cemitério Central (da Rua Francisco Rafael). Causava-lhe surpresa ver, na ingenuidade dos seus sete anos, que já estava enterrado antes mesmo de viver, chegando a pensar que, por ter o mesmo nome, já havia morrido! Li muito posteriormente, no seu livro Viagem no Tempo e no Espaço – Memórias (1970, Livraria José Olympio), uma repetição do que me havia dito pessoalmente, no entanto com detalhes mais explicativos.

Fourniol Rebello. Foto / SuperBairro

José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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