Falar de política no Brasil é quase sempre o mesmo que falar de polícia. Aconteceu com o atual presidente Lula, que já estava preso e foi beneficiado pelas lambanças do então juiz, depois ministro e atual senador Sérgio Moro, mancomunado com o seu parceiro Deltan Dalagnol e coleguinhas.
Caso os dois destrambelhados tivessem seguido à risca as normas que regem o código de processo que define a Justiça e o comportamento dos seus agentes, talvez Lula tivesse cumprido pena até o final. O resultado –soltura de Lula– ficou com cheiro de trambique, de marmelada. Mas não foi.
Agora vem o “grand finale” do caso Bolsonaro. Também se fala em excesso de poderes do ministro do STF Alexandre de Moraes. E em que pese quase todos os fatos ligados ao ex-presidente e familiares seus caírem no colo do “Xandão”, é possível acreditar que a condução dos processos tem sido correta, com amplo direito de defesa para os acusados, prazos respeitados e obediência aos ritos legais da Justiça.
Dito isto, fica a questão de onde Bolsonaro cumprirá sua pena. E aí eu vou contra os que defendem que os condenados devem sofrer maus tratos. Pelo contrário: o Estado deve mostrar que é justo na aplicação das penas e competente na sua obrigação de fazer com que o presidiário tenha a proteção deste mesmo Estado para pagar pelos seus erros.
É preciso fazer o cidadão acreditar que todas as leis e regras existem para mostrar que o crime é o lado ruim da sociedade, enquanto o Estado é o lado bom. Ou seja, na luta do bem contra o mal, é preciso acreditar no bem. Apesar de todos os defeitos e vacilos deste bem no qual devemos investir.

Voltando ao tema Bolsonaro, é evidente que não se coloca um ex-presidente da República em uma cela comum da tal Papuda, o presídio do Distrito Federal que dá calafrios nos maus elementos que agem dentro da política. Não adianta dizer que os demais elementos que cumprem pena na Papuda são iguais a Jair Bolsonaro. Não são. Bolsonaro governou o país, representou o Estado brasileiro diante das demais nações do mundo, ele não é de modo algum igual aos outros, ainda que a própria lei determine que “todos são iguais perante a lei”.
Que sejam iguais para responder pelos crimes que cometem, mas que o cumprimento da pena receba uma atenção especial de acordo com as singularidades de cada um.
Penso que Bolsonaro cumprir sua pena na unidade da Polícia Federal, onde está neste momento, é importante para garantir a sua integridade e preservar o símbolo representado pelo mais alto cargo público do país, a presidência da República.
Resolvida esta questão, fica uma outra, muito mais importante para ser enfrentada: a limpeza, mesmo que lenta, gradual e segura, conforme se definiu o processo de anistia conduzido pelos ex-presidentes Ernesto Geisel e João Baptista Figueiredo há quase 50 anos.
Temos, hoje, uma classe política que desacredita da Justiça, quer medir forças com ela, quer desmoralizar as leis. E por isso muitos de seus representantes acabam envolvidos com atos criminosos. Alguns, pegos em escândalos dos mais diversos, acabam tendo que ver o sol nascer quadrado. Mas ainda são poucos, muito poucos.
O importante não é questionarmos onde um figurão da política vai cumprir sua pena, mas o que a sociedade brasileira deve fazer para não eleger gente que enverede pelos tortuosos caminhos do crime. Mesmo assim, se “pisar na bola”, cadeia nele!

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 50 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 24 anos.



Foto / Valter Campanato/Agência Brasil 
