Quem lê os meus textos aqui, já deve saber que sou avô de uma menina de 8 anos. Ela me fascina, faz com que a minha vida seja muito melhor do que eu imaginava nesta idade. E eu, por minha vez, procuro não ser tão babão –e bobão– satisfazendo os seus menores desejos. Procuro, mas não consigo.
A reivindicação mais recente da garotinha foi até simples. Depois de colecionar durante meses as figurinhas do álbum “Mongo e Drongo”, dois bocós dos desenhos animados dos dias de hoje, ela chegou em um beco sem saída: faltavam 23 figurinhas para completar o álbum e elas não surgiam nos envelopes vendidos nas bancas.
Dito isto, você haverá de perguntar: “E para que servem os avôs?”. Adivinhou. Servem para fazer das tripas coração e completar o álbum dos netos. Foi o que eu fiz. Segui as instruções da editora e fiz o pedido das figurinhas faltantes. Claro que o preço foi bem maior que o normal, mas o objetivo foi atingido.
Depois de fazer o pedido das figurinhas, acompanhado do pix com o pagamento por elas e pelas despesas de postagem, recebi o aviso de que o pedido havia chegado, foi atendido e as figurinhas chegariam pelos Correios. E, em seguida, veio o aviso estranho: o prazo que os Correios pedem é de 15 dias úteis para a entrega. Isto mesmo, você leu corretamente: 15 dias úteis.
Depois disso, fico ouvindo, dia sim, dia sim também, a perguntinha ingênua da minha neta: “Vovô, as fotos já chegaram?”. Isto mesmo, as crianças de hoje chamam álbum de livro e figurinhas de fotos…
Eu, inocente de tudo, respondo: “Acho que chegam amanhã, vamos esperar”. E assim vamos caminhando, em pleno 2025, esperando por meras 23 figurinhas do Mongo e Drongo que os Correios estimam um prazo de 15 dias úteis para entregar.

Esta foi a primeira parte da conversa que eu gostaria de ter com você, estimado leitor. Uma encomenda postal, em pleno século 21, levar 15 dias úteis para chegar às mãos do destinatário. Aliás, nem sei se serão só 15 dias, porque a tal encomenda ainda não chegou e poderá, quem sabe, se extraviar.
A segunda parte da história tem a ver com os Correios. Trata-se, hoje, de um dinossauro estatal que não consegue nem de longe competir com as agilíssimas startups do e-commerce, que entregam milhões de encomendas quase ao mesmo tempo em que você diz Pindamonhangaba.
E acredite, esta mesma empresa, que já se safou de outras tentativas de privatização, agora está querendo nada mais nada menos que um aporte de recurso de R$ 20 bilhões para se recuperar da letargia em que se encontra há décadas.
Para quem ainda não entendeu, o governo federal está disposto a avalizar empréstimos de R$ 20 bilhões em uma empresa que irá, mais cedo ou mais tarde, continuar sendo inviável. Os Correios continuarão perdendo de goleada das empresas de entrega de mercadorias vendidas no mercado eletrônico e outras encomendas.
E por que os Correios não têm salvação? Justamente porque o modelo de negócio das empresas que dominam o mercado atualmente se baseia em estrutura enxuta, tecnologia de ponta e logística imbatível.

Enquanto isso, os velhos Correios, que, deve-se reconhecer, já foram muito importantes para o país, continuarão capengando, com uma gordura de custos imensa e sem qualquer perspectiva de sucesso. E a pergunta que fica é: por que o governo pretende concordar com um endividamento de mais R$ 20 bi nesta brincadeira? Só para justificar a sua ideologia estatista?
Enquanto isso, fica uma menininha de 8 anos sem entender por que uma encomenda da Shopee, por exemplo, chega dois ou três dias depois, enquanto as suas 23 figurinhas estão dormindo nos meandros de uma empresa velha, caindo aos pedaços.
Não tem como livrar a cara dos Correios. É preciso exigir:
– Ou privatiza, ou fecha as portas!

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 50 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 24 anos.


Foto / Fernando Frazão/Agência Brasil 
