Na era da informação em tempo real que vivemos atualmente, aposto que ninguém neste país deixou de ser impactado pela Operação Contenção, do Governo do Rio de Janeiro, que foi realizada na terça-feira (28) e ainda não fechou o número de mortos da maior chacina desse tipo em toda a história daquele estado.
Até as 13h15 desta quarta-feira (29) o governo fluminense admitiu 119 mortes. Destes, quatro –eu disse quatro– eram policiais. Não deveria ser nenhum, mas a desproporção entre os óbitos de criminosos, suspeitos ou vítimas de confronto é absurdamente maior que o de agentes de segurança. Isto quer dizer, é óbvio, que não existiu exatamente um confronto, mas execuções.
É comum haver uma divisão muito clara entre a população brasileira quando ocorrem casos desse tipo. De um lado, há os que aplaudem o número de mortos. Alguns até usam a surrada expressão de que “bandido bom é bandido morto”.
De outro lado, provavelmente em minoria, estão os que querem ver maior eficiência das forças de segurança para combater o crime organizado com métodos de investigação sofisticados e o ataque ao crime em sua raiz, que passa pelo tráfico de drogas, a lavagem de dinheiro e a corrupção existente dentro do próprio Estado.
Essas duas correntes de opinião nunca deixarão de existir. Porém, o que se espera é que os próprios Poderes aperfeiçoem suas estratégias e se comprometam a seguir estritamente a lei quando se trata do ataque à criminalidade. Não é admissível combater o crime cometendo outro crime.

Sempre que ocorre uma brutalidade das forças policiais com o argumento de combater o crime, surge uma outra expressão nas rodas de bar, no cafezinho da firma ou no transporte coletivo: o “monopólio da violência”.
Fui pesquisar na internet e vendo o peixe a você pelo mesmo preço que comprei no Google:
“O ‘monopólio da violência’ é o termo que descreve o conceito de que apenas o Estado possui o direito legítimo de usar força física coercitiva em um determinado território. Foi popularizado pelo sociólogo Max Weber, que definiu o Estado moderno como uma comunidade humana que detém esse monopólio. Isso significa que o Estado, através de suas instituições (como a polícia), é o único agente autorizado a usar a violência, enquanto indivíduos e outras organizações não têm essa mesma legitimidade, que é atribuída pelo povo em troca de proteção.”
Compreendeu? Só o Estado deve ter o poder de usar da violência. E só para proteger o próprio Estado e os indivíduos que estão sob a sua proteção. É justo, certo?
Mas aí é que mora o perigo. É justo o monopólio da violência nas mãos do Estado desde que o Estado o use com rigorosa legitimidade. Quer dizer, esse monopólio não permite que policiais saiam matando gente, seja culpada ou inocente, como bem entenderem.
Chacinas como esta do Rio de Janeiro são uma violação ao monopólio da violência. São o mau uso desse poder. Porque não é possível acreditar que essas mais de 100 pessoas foram mortas enfrentando os policiais como se estivessem na Guerra da Ucrânia. É mais provável que elas tenham tentado escapar e foram abatidas a tiros. Houve gente que foi morta com os pulsos amarrados…
Agora que mais um morticínio ocorreu, é preciso que a Justiça seja rigorosa na avaliação de como foi conduzida a operação. A lentidão e o pouco interesse, como no célebre caso do Massacre do Carandiru de 1992, em São Paulo, quando 111 detentos (oficialmente, mas extraoficialmente seriam cerca de 250) foram mortos, sem nenhuma vítima fatal entre os policiais, só estimula novos episódios de violência praticada ilegitimamente pelo Estado.
É preciso mudar a velha expressão popular: “Bandido bom é bandido preso, processado, condenado e cumprindo pena”. O resto é barbárie.

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 50 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 24 anos.



Foto / Eusébio Gomes/TV Brasil 
