Tarcísio em fase positiva: "com que roupa eu vou?" Foto / Ciete Silvério/Governo de SP

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Costumo dizer que os meus textos nesta coluna Política & Políticos não são produto de mergulhos profundos nas estratégias e meandros da política local e nacional. Com raras exceções, tenho à minha disposição mais ou menos as mesmas fontes de informação que você, leitor. É só ficar de olho no que acontece no dia a dia. E depois, é claro, acertar ou errar na sua interpretação dos fatos e tendências.

Feito este intróito –palavra que o jornalista Joacyr Beça, legítimo exemplar da boa safra dos jornassauros joseenses gostava de usar para se referir a uma introdução– explico desde já o título desta coluna. É isto mesmo: a esta altura do jogo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), já deve estar pensando qual mago das agulhas e tesouras irá costurar o terno da sua posse como presidente da República em janeiro de 2027.

Surpreso com o meu raciocínio? Vou tentar explicar como cheguei a ele. Em primeiro lugar, o dever de casa que o homem vem fazendo no Palácio dos Bandeirantes. Depois de um início titubeante devido às pressões do bolsonarismo e à responsabilidade de entrar em um palácio do qual uma dinastia de tucanos dava direito ao PSDB de requerer pelo menos dois usucapiões para se manter por lá, o carioca incorporou uma alma mineira e esperou as nuvens irem mudando de lugar e os cenários também, como costuma ocorrer na política.

Tarcísio começou a acertar o dia a dia do governo e em seguida partiu direto do varejo para o atacado, com grandes projetos de infraestrutura, como a retomada do Rodoanel, a revitalização do Centro da cidade de São Paulo, a transformação do velho conto de fadas dos trens intercidades em uma possibilidade concreta, o desenrolar do sonho quase impossível de um túnel entre Santos e Guarujá, o megaprojeto de recuperação da malha viária do estado… Enfim, há muito tempo não se via um plano de governo tão à altura da grandeza de São Paulo.

Além das notícias boas, Tarcísio cuidou de limpar a área das encrencas que complicavam a sua vida. Finalmente abandonou a ideia de ser um general em guerra contra o crime –com as armas erradas– e parece que conseguiu levar a segurança pública para os trilhos da normalidade. A saída antecipada do belicoso Derrite da secretaria é o toque final nesta operação.

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Ao mesmo tempo, o Governo de São Paulo passou a abraçar mais fortemente políticas públicas ligadas ao campo social, como o reforço à proteção da mulher, ações de apoio à sustentabilidade e outros sinais de que entendeu que governo moderno não se resume a obras, existem pessoas, de todos os gêneros, de todas as cores, todos os credos, todas as idades, que precisam do respeito do Poder Público.

Como eu fiquei sabendo de tudo isto? Vai aí outra mudança que pode levar Tarcísio de Freitas ao Planalto: a comunicação. O governo passou de uma assessoria de imprensa dorminhoca e burocrática para uma remodelação na Agência SP que, hoje, tem a cara de um governo atuante com um comandante que cultiva planos políticos ambiciosos.

Com este dever de casa sendo cumprido, o governador de São Paulo, que pelo próprio cargo não poderia deixar de ser considerado, passou a ser um jogador de respeito nesta disputa. A começar pelo efeito eleitoral que deve ter a sua aproximação com os eleitores de centro-direita e centro devido ao novo personagem que ele passou a encarnar.

Ao mesmo tempo, Tarcísio dá “um migué” na direita mais radical, aquela que atrasou o seu lado no início do governo cobrando atitudes e discursos extremistas. Ele vai cozinhando esse galo em fogo superlento e espera que o prato só fique pronto depois das eleições de 2026. Se for eleito, aí todos nós vamos saber em que estação do “dial” a banda tarcisista realmente toca: um centro democrático (difícil), uma direita liberal ou uma extrema-direita. Torçamos, no mínimo, pela segunda opção.

Rapidamente, vamos ver as chances de Tarcísio no campo do centro para a direita: o gaúcho Eduardo Campos, o paranaense Ratinho Júnior, o mineiro Romeu Zema, o goiano Ronaldo Caiado… Mais alguém? Sinceramente, como a molecada que jogava pelada nos campinhos de várzea costumava dizer dos adversários quando eu também era moleque, “não dão nem pro cheiro”.

É claro que tudo isto depende do futuro que está sendo traçado para o ex-presidente Jair Bolsonaro no STF. Vai continuar inelegível? Se sim, Tarcísio fica a um passo de ganhar o apoio do bolsonarismo, pelo menos no segundo turno. Se puder competir, caberá ao seu Jair ter humildade para saber que não elege a si próprio e, muito menos, à ex-primeira-dama e à filharada. Daí o cuidado com que Tarcísio se equilibra nessa corda bamba.

APOIO / SUPERBAIRRO

E do lado dos “alemão”, como o pessoal da quebrada costuma se referir aos adversários? Teremos Lula? Ora, é óbvio que teremos. O homem está até imitando dancinha do quadradinho de oito para mostrar que, apesar da idade avançada, está vendendo saúde. Mas e o seu governo? Ai, ai, ai…

Depois de um início interessante, com bons números para mostrar e uma atmosfera política novamente respirável após quatro anos de circo bolsonarista, o governo do nosso incrível Lula parece poder ser definido com aquele conhecido meme que vagueia pelas redes sociais e que é mais ou menos assim: “Tava bom, quer dizer, não tava muito bom, tava ruim, aí disseram que ia melhorar, agora parece que piorou?”.

O espectro político que vai do centro até a esquerda anda bem magrinho há muitos anos, talvez décadas. É até difícil imaginar nomes caso Lula não seja o candidato. O vice paulista Geraldo Alckmin? O pernambucano noviço João Campos? O ministro Fernando Haddad, que dirige uma economia que balança, balança, mas não cai? A piada lançada por algum maluco que inclui a primeira-dama Janja nesta lista?

É, caro leitor, a situação do eleitor do centro para a esquerda não é boa. Tem que se agarrar em Lula, um governante que está desesperado por produzir boas notícias. Mas já percebeu que os resultados prometidos nunca são para já? É tudo para daqui a, no mínimo um ano. Não há eleitor que se satisfaça com tanto futuro e tão pouco presente.

Além disso, vamos deixar claro aqui. O PT, o verdadeiro petista, não divide poder. Ou é o Lula ou tem que ser algum nome do partido e do seu campo ideológico, o que torna a coisa difícil até para o petista nutella Haddad.

Então fica assim. Estamos há pouco mais de um ano da sucessão de Lula. O calendário político-judicial-criminal-circense que teremos nesse período será cheio de novos lances. A cada etapa definida, mais nos aproximamos da sucessão presidencial. Por enquanto, o quadro é este.

Quem será o alfaiate do Tarcísio, um paulista ou um carioca?

 

> Política & Políticos, de autoria do jornalista Wagner Matheus, é uma coluna de opinião, análise e relatos sobre a política em São José dos Campos e no país. Diferentemente, o noticiário do portal SuperBairro busca a objetividade e a informação sem caráter opinativo.